Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

PACIENTE COM LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA P190 BCR/ABL COM RESPOSTA ÓTIMA À TERAPIA COM IMATINIBE - RELATO DE CASO

  • TR Evangelista,
  • HP Baracuhy,
  • JA Castro,
  • MCA Viana,
  • RC Pereira,
  • RC Melo,
  • TAD Nascimento,
  • VFS Souza

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S475 – S476

Abstract

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Introdução: A Leucemia Mieloide Crônica (LMC) se origina a partir de uma translocação mútua [t(9;22)(q34;q11)], resultando na fusão de 2 genes, BCR no cromossomo 22 e ABL1 no cromossomo 9, que gera uma proteína que catalisa a tirosina quinase. Essa enzima estimula a formação descontrolada de granulócitos pela medula óssea (MO), implicando na patogênese da LMC. Há 3 variantes comuns de BCR-ABL1, que se surgem a partir de pontos de interrupção diferentes para translocação, gerando proteínas de pesos moleculares distintos. A forma p190 BCR/ABL1 reflete mau prognóstico, representa a minoria dos casos e costuma apresentar resistência à 1ª linha da terapia tradicional. Relato de caso: Mulher, 63 anos, hipertensa e diabética, em investigação hospitalar de leucocitose. Queixa de dor abdominal e fezes amolecidas com duração de 2 meses, sem distermias ou calafrios. Uso prévio de ceftriaxona por 7 dias, com persistência das queixas e piora da leucocitose, sem perda ponderal ou sudorese noturna. Exame físico inocente, sem esplenomegalia. Laboratório com hemoglobina de 13,3 g/dL, 48.800/mm3 leucócitos, com 3.416/mm3 monócitos, plaquetas 409.000/mm3, esfregaço de sangue periférico com leucocitose importante, neutrofilia e monocitose, sem blastos, além de 2 amostras de hemoculturas e Proteína C Reativa negativas. Tomografia abdominal revelou baço e fígado normais e estenose de junção uretero-pélvica com hidronefrose à direita. Dosagem de BCR/ABL evidenciou p210 negativo e p190 positivo (39,59%), além de mielograma com MO de aspecto mieloproliferativo com aumento marcante de neutrófilos e precursores (predomínio de promielócitos e mielócitos) com contagem de blastos em 6%. O Escore de Sokal foi 1.3, que indica alto risco e sobrevida de 65% após 2 anos de início do tratamento. 2 meses após o diagnóstico, iniciou Imatinibe, devido à falta de previsão do serviço para liberação do medicamento de 2ª geração. Para acompanhamento do tratamento, realizou a análise quantitativa do BCR/ABL p190 cuja relação BCR-ABL1 em porcentagem aos 3 meses foi de 4,34, aos 6 meses de 0,73 e aos 12 meses de 0,41, considerado resposta ótima. Após 1 ano e 7 meses do início da terapia, realizou-se novo exame para registro de resposta, que revelou o valor de 0,207%. Discussão: A variante p190 do BCR/ABL é rara, com frequência de 1-2% dos casos de LMC. É comum a associação com monocitose periférica, ausência de esplenomegalia e características morfológicas de MO intermediárias entre LMC e Leucemia Mielomonocítica Crônica. A patologia costuma apresentar baixa resposta aos inibidores de tirosina quinase (ITKs) de 1ª geração, porém, a paciente vem apresentando resposta molecular adequada ao uso do Imatinibe. Conclusão: A recomendação para os casos de LMC com BCR/ABL p190 positivos é o uso de ITKs de 2ª geração na 1ª linha de tratamento, ainda que alguns serviços disponibilizem apenas o Imatinibe para o tratamento desses casos. A paciente apresentou resposta adequada de maneira inesperada, talvez pelo fato de que o diagnóstico se deu em fase crônica, quando não se evidenciava anemia, trombocitopenia, trombocitose, basofilia ou blastos em sangue periférico. Assim, é válido ressaltar a importância da investigação precoce, bem como da classificação de risco, a fim de instituir a terapia de forma breve e atingir resposta adequada em tempo de contribuir com a sobrevida do paciente.