História (Jan 2010)
Elitismo cultural e "democratização da cultura" no Império Romano Tardio
Abstract
A produção literária e artística dos últimos séculos da Antiguidade apresenta todos os sinais de elitismo cultural. Por trás desta aparência, e contrastando com a impossibilidade radical de democratização política do regime imperial, podemos, no entanto, reconhecer os sinais de um processo que o historiador italiano Santo Mazzarino denominou de "democratização da cultura". Outros historiadores denomiranarm-no de "vulgarização". A historiografia catastrofista do "declínio" do mundo antigo e da queda do Império romano atribuiu uma grande responsabilidade ao que apresentava como um nivelamento por baixo da sociedade antiga e de sua cultura sob a ação conjugada de dois fatores: a cristianização, promotora de um populismo cultural, e a barbarização, destruidora das mais altas realizações da tradição clássica. Todavia, a "democratização" pode também ser analisada em termos de "democratização positiva", ascendente (de baixo para cima). O debate continua vivo entre os historiadores atuais para definir se essas tendências à democratização da cultura representaram um fenômeno negativo ou positivo. É necessário, no entanto, afastar todo julgamento de valor a priori, necessariamente subjetivo, se quisermos estudar o fenômeno em seus diversos aspectos. Os resultados desse tipo de pesquisa são diversos, segundo os domínios em que se manifesta uma democratização: a produção literária e artística, a produção material, o pensamento jurídico, as crenças religiosas, as evoluções linguísticas, a afirmação das culturas nacionais.