Acta Médica Portuguesa (Apr 2015)
Metalose: Causa Rara de Anemia Hemolítica Autoimune
Abstract
Introdução: A anemia hemolítica pode estar associada a múltiplas etiologias, nomeadamente a tóxicos, como os metais, sendo esta uma causa rara. Caso Clínico: Homem de 55 anos de idade, sujeito a artroplastia total da anca direita (prótese não cimentada com articulação cerâmica-cerâmica, cujo componente acetabular era constituído por uma cúpula metálica composta por uma liga de titânio, vanádio e alumínio na qual encaixava um insert cerâmico). Cerca de quatro anos após esta intervenção cirúrgica referia ruídos na prótese com os movimentos. Foi sujeito a revisão cirúrgica tendo-se constatado a presença de líquido espesso intracapsular de cor escura, fractura do insert acetabular cerâmico e sinais de desgaste da cúpula metálica acetabular. Procedeu-se a lavagem abundante e substituição do insert cerâmico fracturado por um insert de polietileno. Dois meses depois recorreu ao Serviço de Urgência por degradação do estado geral, flutuação na anca direita e icterícia muco-cutânea. Analiticamente evidenciava valores compatíveis com anemia hemolítica autoimune. Foi feita punção articular com saída de abundante líquido metalótico. A tomografia computorizada revelou extensa colecção heterogénea quística intrapélvica com múltiplos fragmentos de prótese no seu interior, sugestivos de metalose. A anemia hemolítica foi interpretada como consequência da toxicidade das partículas e iões metálicos oriundos do desgaste da prótese. Iniciou corticoterapia em altas doses e posteriormente quando houve condições procedeu-se à substituição de todos os componentes da prótese e drenagem do material acumulado intra-pélvico. Discussão: Após a fractura do insert cerâmico a cabeça cerâmica passou a articular directamente com o componente acetabular metálico, originando os ruídos e desgaste com libertação de partículas e iões. Este material formou uma coleção quística intrapélvica, que passou despercebida na primeira revisão cirúrgica. O desbridamento cirúrgico pôs em comunicação esta coleção com os tecidos adjacentes e com a circulação sistémica, desencadeando efeitos sistémicos graves, como anemia hemolítica auto-imune. Desconhece-se o potencial de toxicidade de cada um dos elementos metálicos desta prótese, não estando ainda disponíveis testes laboratoriais de detecção. Conclusão: A metalose é uma causa rara de anemia hemolítica auto-imune.
Keywords