Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Sep 2000)

Dilatação e Curetagem na Avaliação do Sangramento Uterino Anormal: Achados Histopatológicos e Relação Custo/Benefício Dilatation and Curettage in the Evaluation of Abnormal Uterine Bleeding: Histopathologic Findings and the Cost/Benefit Relation

  • Luiz Augusto Henrique Melki,
  • Marco Aurélio Pinho de Oliveira,
  • Waldyr Tostes Filho,
  • Augusta Maria B. de Assumpção,
  • Hildoberto Carneiro de Oliveira

DOI
https://doi.org/10.1590/S0100-72032000000800005
Journal volume & issue
Vol. 22, no. 8
pp. 495 – 502

Abstract

Read online

Objetivo: avaliar criticamente os achados histopatológicos e a relação custo/benefício da dilatação e curetagem uterina (D&C) no rastreio do sangramento uterino anormal (SUA). Método: análise retrospectiva dos resultados histopatológicos de 542 D&C praticadas por SUA na Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM-UERJ), de janeiro de 1984 a janeiro de 1994. As pacientes foram divididas em dois grupos: Grupo 1 - pacientes com idade igual ou inferior a 50 anos (n = 385) e Grupo 2 - pacientes com mais de 50 anos (n = 157). Foram excluídos desse estudo os casos de curetagens de urgência. Todas as curetagens foram realizadas sob narcose. O tempo médio de internação foi de três dias. Considerou-se resultado patológico negativo quando o laudo histopatológico mostrou endométrio tipo proliferativo, secretor, atrófico ou iatrogênico. Este último termo refere-se a endométrio sob possível influência de medicação hormonal. Considerou-se resultado patológico positivo quando o laudo histopatológico evidenciou algum tipo de lesão. Resultados: no Grupo 1 encontrou-se resultado patológico negativo em 50,2% dos casos, resultado patológico positivo em 39,7% dos casos e material insuficiente para diagnóstico (MIPD) em 10,1% dos casos. Pólipo endometrial e mioma submucoso foram observados em apenas 5,5% e 4,4%, respectivamente. O câncer foi de observação incomum nesse grupo, sendo encontrado o adenocarcinoma do endométrio (ACE) em apenas 1,3% dos casos (n = 5), numa relação de 77 D&C para um ACE. No Grupo 2 observou-se resultado patológico negativo em 38,3% dos casos, resultado patológico positivo em 38,1% dos casos e MIPD em 23,6% dos casos. Pólipo endometrial e mioma submucoso foram diagnosticados em somente 5,1% e 0,6%, respectivamente. Lesões malignas foram encontradas em 12% dos casos, sendo 9,5% (15 casos) de ACE, mostrando relação de um ACE para 10 D&C. Conclusões: consoante o conhecimento atual sobre a etiopatogenia do SUA este estudo mostrou que a D&C diagnóstica tradicional tem baixa acurácia na avaliação daquele sangramento e relação custo/benefício incompatível com a medicina atual. Portanto, não deve ser o exame de primeira escolha. Considerando, contudo, que o ACE foi encontrado em uma de cada 10 D&C em mulheres com mais de 50 anos com queixa de sangramento uterino, pode-se indicar D&C com mais liberalidade nesse grupo, uma vez que não se disponha de histeroscopia com biópsia dirigida. Atualmente, a D&C não tem mais um papel significante no rastreio do SUA como tinha há alguns anos. Entretanto, o procedimento ainda encontra indicação em algumas situações e não pode ser de todo abandonado, devendo sua indicação obedecer a critérios restritos.Purpose: to critically evaluate the histopathologic findings and the cost/benefit relation of dilatation and uterine curettage (D&C) in the evaluation of the abnormal uterine bleeding (AUB). Method: retrospective analysis of the histopathological findings in 542 D&C performed for AUB in the Department of Gynecology of the Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM-UERJ), between January 1984 and January 1994. The patients were divided into two groups: Group 1 - patients 50 years (157 D&C). Cases of urgency curettage were excluded from the study. All the curettages were accomplished under narcosis. The mean hospitalization lenght was three days. A histopa-thological finding of proliferative, secretory, atrophic or iatrogenic type endometrium was considered a negative pathological result. The term iatrogenic refers to the endometrium under possible influence of hormonal medication. When the histopathological finding evidenced some lesion, this was considered a positive pathological result. Results: in Group 1 there was a negative pathological result in 50.2% of the cases, positive pathological result in 39.7% of the cases, and insufficient material for diagnosis (IMD) in 10.1% of the cases. Endometrial polyp and submucosal leiomyoma were found in only 5.5% and 4.4%, respectively. Cancer was an uncommon observation in that group, endometrial adenocarcinoma (EAC) (five cases) being found in only 1.3% of the cases, in a relation of 77 D&C to one EAC. In Group 2, a negative pathological result was observed in 38.3% of the cases, positive pathological result in 38.1% of the cases and IMD in 23.6% of the cases. Endometrial polyp and submucosal leiomyoma were found only in 5.1% and 0.6%, respectively. Malignant lesions were found in 12% of the cases EAC being 9.5% (15 cases), showing a relation of one EAC to 10 D&C. Conclusions: according to the current knowledge on the etiology of AUB, this study showed that traditional diagnostic D&C has low accuracy in the evaluation of AUB and a cost/benefit relation incompatible with current medicine. Therefore, it should not be the examination of first choice. Considering, however, that EAC was found in one of each 10 D&C in women >50 years with a complaint of uterine bleeding, D&C can be indicated with more liberality in that group, if hysteroscopy with directed biopsy is not available. Nowadays, D&C does not play such a significant a role in the diagnosis of AUB as it did some years ago. However, the procedure is still indicated in some situations and it cannot be abandoned, and its indication should obey restricted criteria.

Keywords