AVALIAÇÃO DO PERFIL DE ATENDIMENTO DE PACIENTES ONCOHEMATOLÓGICOS ADMITIDOS COM NEUTROPENIA FEBRIL NO HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

Abstract

Introdução: A neutropenia febril (NF) é uma emergência clínica comum em pacientes oncohematológicos. O sucesso na gestão da NF requer seu reconhecimento imediato. As diretrizes apontam para a importância de uma triagem rápida e estratificação de risco. Todavia, ainda há altos índices de morbidade, mortalidade e custos relacionados à esta complicação. Objetivo: Descrever o perfil de atendimento de pacientes oncohematológicos admitidos com NF no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, instituição de alta complexidade que contempla o atendimento especializado de pacientes oncohematológicos de Uberaba e região. Material e métodos: Por meio da análise de prontuários a partir do ano 2018, envolvendo 67 pacientes em 120 eventos de NF e análise prospectiva através de entrevista clínica, com 11 pacientes em 21 eventos, visou-se traçar o perfil da assistência médica dos pacientes oncohematológicos com NF atendidos neste serviço, desde a assistência pré-hospitalar e buscar possíveis correlações entre o perfil do paciente, tempo de procura de atendimento, a abordagem adotada e o desfecho. Resultados e discussão: em relação as variáveis possivelmente preditoras de alta hospitalar ou óbito, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos em relação as variáveis sexo, idade, escolaridade, procedência, parâmetros hematológicos, uso de fator estimulador de colônia de granulócitos, número de antibióticos e resultado da urocultura. Entretanto, percebeu-se que houve maior número de óbitos em paciente não brancos, que requereram múltiplos antibióticos associados a antifúngicos, com dessaturação periférica de oxigênio, com necessidade de permanência em leito de UTI e presença de bactérias gram negativas. A análise da associação de fatores clínicos e laboratoriais no tempo de espera para a procura de atendimento mostrou que o sexo, a cor da pele, a faixa etária, a procedência, nível de escolaridade, pressão arterial, frequência cardíaca, saturação de oxigênio, neutropenia e dias de hospitalização não estavam associados ao tempo de espera para procura de atendimento médico. Quanto aos parâmetros clínicos e laboratoriais, observou-se que o maior tempo de espera esteve associado à necessidade de terapia intensiva e ao tipo de neoplasia, sendo maior em pacientes com linfoma. Na avaliação prospectiva, observou-se que a maior parte dos pacientes relataram que o tempo de atendimento inicial, na origem, ocorreu em até 30 minutos e que a transferência para a assistência de referência foi por meios próprios e que o tempo de transferência até chegar ao serviço de referência foi inferior a seis horas em 90% das vezes. Em todos os casos, os pacientes alegaram ter recebido, no serviço de referência, informações sobre a conduta a tomarem em caso de febre. Contudo, em quase a metade das intercorrências a busca por assistência ocorreu após seis horas do início da febre. Informaram, ainda, terem sido atendidos, na referência, na primeira meia hora, mais de três quartos que receberam antibioticoterapia dentro de uma hora e que foram internados em leito de isolamento. Em relação ao desfecho, foram registrados dois óbitos. Conclusão: Os resultados obtidos contribuíram para uma melhor compreensão da doença, dos processos diagnósticos e terapêuticos envolvidos na NF, esclarecendo as causas mais importantes de atraso no tratamento, o que permitirá o planejamento de ações que tenham impacto positivo no atendimento destes pacientes.