Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

RELATO DE CASO: DOR AGUDA RELACIONADA A TRANSFUSÃO

  • MC Moraes,
  • JPL Amorim

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S802 – S803

Abstract

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Introdução: Dentre as reações transfusionais agudas, a dor aguda relacionada a transfusão é caracterizada pela ocorrência de dor, de curta duração, principalmente na região lombar, torácica e membros superiores, durante ou até 24 horas após a transfusão, tendo sido descartadas outras causas. Contudo, apesar de reconhecida e descrita em manuais e protocolos de hemovigilância, muito pouco se sabe sobre esse tipo de reação, com pouco relatos na literatura. Caso: Paciente de 31 anos, sexo feminino, no 3ºdia de pós-operatório de abdominoplastia, com febre e anemia (Hb 7,2g/dL), sendo solicitada a transfusão de 1 unidade de concentrado de hemácias filtradas (CHF). Após 20 min do início da transfusão, a paciente apresentou cefaleia, náuseas e rebaixamento do nível de consciência, sendo a transfusão interrompida e a paciente medicada com anti-inflamatório, corticoide e solução fisiológica, com melhora parcial de sintomas. Na sequência, apresentou dor torácica, com irradiação para dorso, tremores e queda de saturação, sendo instalado máscara de O2 e transferida para a UTI.Evoluiu com melhora progressiva, com desmame de O2, até completa resolução do quadro.Exames de tomografia computadorizada de crânio e tórax, eletrocardiograma, angio tomografia de tórax e testes imunohematológicos sem alterações. Discussão: A incidência de dor aguda relacionada a transfusão, não está bem estabelecida. No Brasil, o Manual Técnico de Hemovigilância sugere uma incidência de aproximadamente 1: 4500 transfusões. No Grupo GSH, tivemos 3 casos notificados entre janeiro/22 a abril/23, num total de 482.249 transfusões, representando uma incidência aproximada de 1:160.749. Em relação a etiologia, as informações na literatura também são inconclusivas, sugerindo uma associação com o uso de filtros de bancada para desleucocitação de hemocomponentes ou com a transfusão de anticorpos HLA de classe II. Contudo, o nosso caso, assim como a maioria dos casos descritos na literatura, ocorreu após a transfusão de hemocomponentes desleucocitados pré armazenamento, sugerindo uma correlação com o uso de filtro de leucócitos e uma etiologia não associada ao aumento de citocinas. Exceção a essa regra seria a interleucina 8, que não reduz sua concentração após a remoção dos leucócitos e tem sido implicada na hipernocicepção inflamatória no câncer, sugerindo um papel na etiologia da dor relacionada a transfusão. Contudo, apenas seu o aumento não explica o quadro, já que a ocorrência desse tipo de reação é rara, não envolvendo todos os pacientes que recebem hemocomponentes desleucocitados. Não encontramos trabalhos na literatura sobre o papel dos anticorpos HLA de classe II na etiologia da dor aguda. Em relação a evolução, a paciente apresentou melhora rápida, confirmando a evolução benigna desse tipo de reação. Conclusão: O tipo de hemocomponente envolvido, o quadro clínico e a evolução da paciente coincidem com o descrito na literatura para os quadros de dor aguda relacionada a transfusão. Contudo, muito pouco se sabe ainda sobre a incidência e etiologia desse tipo de reação, com poucos casos na literatura. A sua baixa incidência, dificuldade de diagnóstico e subnotificação contribuem para essa realidade. A notificação e publicação dos casos suspeitos é importante e necessária para obtermos dados mais fidedignos, que nos permitirão avançar no conhecimento dessa intercorrência.