Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE COMO AGENTE DE DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA EM PACIENTE VIVENDO COM HIV

  • Ana Beatriz Pacheco da Silva,
  • Ana Luiza Iannarella Lacerda,
  • Marianna da Costa Moreira de Paiva,
  • Marcelo Gomes dos Santos,
  • Otilia Lupi

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103227

Abstract

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Streptococcus pneumoniae (S. pneumoniae) é um coco gram positivo encapsulado comensal do trato respiratório superior de aproximadamente 10% das pessoas e responsável por infecções como pneumonia, sinusite, meningite e doença invasiva. A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma infecção polimicrobiana, causada por microorganismos sexualmente transmissíveis em 85% dos casos, sendo rara sua associação com pneumococo. Este trabalho descreve um caso de abscesso tubo-ovariano por S. pneumoniae em paciente vivendo com vírus da imunodeficiência humana (PVHIV), sem envolvimento primário de outros sítios. PVHIV de 40 anos, sem tratamento regular, com contagem de linfócitos T CD4+ de 489 células/ul, vacinação incompleta e hipertensa. Iniciou quadro de dor abdominal, febre, náuseas e vômitos com uma semana de duração, sem alterações respiratórias ou intestinais. Foi atendida previamente com prescrição de amoxicilina com clavulanato. Após persistência da dor, deu entrada no Hospital Federal da Lagoa com B-HCG negativo, leucocitose e aumento de proteína C reativa. A tomografia de pelve evidenciou formação heterogênea anexial esquerda, compatível com abscesso tubo-ovariano. Iniciado ceftriaxona e metronidazol parenteral, seguido de drenagem de abscesso, histerectomia subtotal, anexectomia esquerda e salpingectomia direita. Cultura do abscesso identificou cocos gram positivos catalase negativo, com sensibilidade à optoquina, caracterizando S. pneumoniae. O teste de sensibilidade indicou tratar-se de cepa multissensível e o isolado foi enviado para sorotipagem. Paciente apresentou evolução favorável e teve alta hospitalar sete dias após a internação, com antibioticoterapia oral. O acometimento do trato genital feminino por pneumococo incomum, visto sua inibição pelo pH vaginal. Os casos de DIP por este patógeno ocorrem predominantemente por disseminação hematogênica secundária a bacteremia ou após procedimentos cirúrgicos. PVHIV, em especial aquelas com contagem de linfócitos T CD4+ menor que 200 células/ul, têm maior risco de desenvolver infecções pneumocócicas invasivas, com uma incidência 46-100 vezes maior que na população em geral. Por esta razão, o programa nacional de imunizações prevê a vacinação de pessoas imunossuprimidas com as vacinas antipneumocócicas 13 e 23. A paciente do caso apresentava adesão irregular à terapia antirretroviral, o que confere um status inflamatório maior e não estava vacinada, fatores que podem ter contribuído para seu adoecimento.

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