Revista da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (May 2020)

Uma Revisão de Dermohipodermite Aguda Bacteriana: A Diabetes Mellitus Não Influencia a sua Frequência ou Prognóstico

  • Mariana Batista,
  • Maria Relvas,
  • Rebeca Calado,
  • Maria Manuel Brites,
  • Margarida Gonçalo

DOI
https://doi.org/10.29021/spdv.78.1.1148
Journal volume & issue
Vol. 78, no. 1

Abstract

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Introdução: A dermo-hipodermite aguda bacteriana (DHAB) é uma infeção aguda da derme e hipoderme que mais frequentemente atinge os membros inferiores. Apesar de a diabetes mellitus (DM) ser frequentemente apontada como um fator de risco para o seu desenvolvimento, estudos recentes têm questionado tal relação. O objetivo do presente estudo foi comparar as características da DHAB em doentes com e sem diabetes mellitus. Material e Métodos: Estudo prospetivo dos doentes hospitalizados no Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra com o diagnóstico de DHAB entre Janeiro e Junho de 2018. Foram avaliados os seguintes parâmetros: 1) dados demográficos / biométricos – género, idade; índice de massa corporal (IMC); 2) aspetos clínico-evolutivos – localização, tempo de evolução dos sintomas até ao diagnóstico, história de episódio prévio de DHBA; diagnóstico prévio de DM; 3) alterações laboratoriais – leucocitose, proteína-C reativa (PCR), pesquisa de microrganismo (sangue, pus de abcesso, exsudato de ferida, conteúdo de bolha); 3) terapêutica – duração da antibioterapia, necessidade de terapêutica de segunda linha, duração do internamento; 4) complicações locais (abcesso, necrose) ou sistémicas (bacteriémia, exantema medicamentoso, descompensação de doença subjacente e morte). Os dados foram analisados com o software SPSS, procurando sobretudo a influência da DM nos distintos parâmetros avaliados. A significância estatística foi definida para p< 0,05. Resultados: Foram incluídos 102 doentes, 55 do género feminino (53,9%) e 47 do masculino (46,1%), com idade média de 68,6 ± 13,9 anos. O membro inferior foi o local mais atingido (73,5%), seguido do membro superior (20,6%) e face (5,9%), tendo a DHBA uma média de 3,1 ± 2,5 dias de evolução dos sintomas à data da hospitalização. Vinte e quatro doentes tinham o diagnóstico de DM (23,5%), seis dos quais insulinotratados (25%). Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre o grupo de diabéticos e não diabéticos para o género, idade, localização da infeção, tempo de evolução dos sintomas até à hospitalização, nem no valor dos leucócitos circulantes ou da PCR. A pesquisa de microrganismo (sangue, pus de abcesso, exsudato de ferida, conteúdo de bolha) foi positiva em 2/8 diabéticos (25%) e em 15/39 não diabéticos (38,5%) (p=0,138), tendo sido o mesmo o tipo de microrganismo isolado. A antibioterapia inicial – cefoxitina em associação a clindamicina em 64,7% - foi substituída num doente não diabético e em 10 doentes diabéticos (p=0,451) e a duração total do tratamento antibiótico e do internamento entre os grupos foi semelhante. Complicações locais ocorreram em 3 diabéticos (12,5%) e em 15 não diabéticos (19,2%), e complicações sistémicas em 4 diabéticos (16,7%) e em 12 não diabéticos (15,4%), p=0,553 e p=1,000, respetivamente. Conclusão: O presente estudo demonstra que a DM em doentes hospitalizados com diagnóstico de DHAB não se associa a prior prognóstico nomeadamente necessidade de antibioterapia de segunda linha, internamento mais prolongados ou complicações locais ou sistémicas.

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