Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)
MENINGOENCEFALITE VIRAL POR EBV: ETIOLOGIA RARA OU NEGLIGENCIADA?
Abstract
Introdução: As meningoencefalites virais, pelo risco de morbimortalidade requerem agilidade no reconhecimento e início do tratamento empírico precoce. Valores encontrados na análise do líquor direcionam o tratamento, bem como os achados e alterações evidenciados em exames de imagem. O painel multiplex viral lança luz à detecção rápida e com elevada especificidade, possibilitando ampliar a detecção de outros agentes virais como causa etiológica de quadros neurológicos decorrentes de infecção viral. Quando valorizar? Objetivo: Levantar discussão acerca do diagnóstico etiológico de meningoencefalite viral atendida em serviço de referência em infectologia do estado do Rio Grande do Norte. Paciente fez uso de Aciclovir e apresentou melhora clínica parcial, mantendo sequelas comportamentais, desorientação têmporo-espacial, amnésia anterógrada e movimentos mioclônicos em dimídio direito, apesar do tratamento direcionado ao HSV-1. Em painel viral multiplex (líquor) do 22° dia de evolução do quadro e após 14 dias do início do tratamento antiviral revelou-se amplificação de EBV através de alta fluorescência e CT na curva correspondente, sem detecção de outros vírus na amostra. Assim, lança-se a hipótese mais provável de etiologia do quadro pelo EBV, apesar de menos comumente responsável por quadros como o da paciente de 49 anos, imunocompetente. Discute-se a possibilidade de que diagnósticos antes considerados indeterminados podem ser elucidados com as novas técnicas moleculares de elevada especificidade e sensibilidade, permitindo agilidade em terapias direcionadas. Método: Revisão de prontuário do internamento, total de 28 dias, e do prontuário do seguimento horizontal/ambulatorial. Revisão de literatura extensa sobre diagnósticos diferenciais das meningoencefalites virais e análise molecular (painel viral Multiplex) em bases de pesquisa como Cochrane, Science Direct, PubMed. Resultados: A revisão do caso permitiu discussão em centros de estudos do serviço, a fim de melhorar a rapidez na implementação de tratamento empírico, a discussão sobre descalonar tratamentos após exames confirmatórios (análise liquórica e diagnóstico molecular), ampliar gama de diagnósticos diferenciais entre as encefalites e análise crítica sobre os insumos disponíveis. Conclusão: Diante das terapias imunobiológicas, transplantes de órgãos sólidos e mesmo em imunocompetentes, é necessário atentar para possíveis mudanças no perfil de diagnóstico etiológico das meningoencefalites virais, principalmente por dispormos de técnicas moleculares.