Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)
PERFIL DE SEGURANÇA APÓS EXPOSIÇÃO À DIFERENTES FORMULAÇÕES DE ANFOTERICINA B EM 1879 PACIENTES COM INFECÇÃO FÚNGICA INVASIVA (IFI): ESTUDO OBSERVACIONAL BRASILEIRO
Abstract
Introdução: Apesar do mesmo princípio ativo, as formulações de Anfotericina B (AMB) disponíveis diferem em suas características farmacológicas. Preparações lipídicas, como a Anfotericina B Lipossomal (L-AMB) e o Complexo Lipídico de Anfotericina B (ABLC) permitem a administração de doses mais elevadas, variando em toxicidade se comparadas à formulação convencional (D-AMB). Objetivos: Avaliar o perfil de segurança das diferentes formulações de anfotericina b no contexto da prática hospitalar para o tratamento de Infecções Fúngicas Invasivas (IFI). Método: Estudo multicêntrico, comparativo e retrospectivo, realizado em dez hospitais terciários brasileiros. Registros de pacientes com IFI possíveis, prováveis e provadas, expostos pela primeira vez à qualquer formulação de AMB, foram elegíveis. Resultados: Dos 1879 pacientes, 637 (33,9%) apresentaram alguma alteração nos níveis de creatinina durante exposição à AMB, 70 (11%) com a necessidade de diálise. Quando estratificados por formulação, 351 (55,1%) pertenciam ao grupo D-AMB, 59 (9,3%) do grupo L-AMB e 121 (19%) do ABLC. Desses, 89 (4,7%) precisaram interromper ou descontinuar o tratamento nos primeiros 14 dias por disfunção renal ou nefrotoxicidade. Mil cento e quinze (59,3%) pacientes necessitaram de reposição de potássio após hipocalemia induzida por AMB: 608 (54,5%) do grupo D-AMB, 120 (10,8%) do L-AMB e 227 (20,4%) do ABLC. A interrupção ou descontinuação totalizou em 6 (0,32%) casos. Mil e trinta e nove (55,3%) pacientes receberam transfusão de hemocomponentes logo após o início ou durante uso de AMB, sendo 548 (48,1%) do grupo D-AMB, 129 (11,32%) do L-AMB e 241 (21,20%) do ABLC. No entanto, apenas 2 (0,1%) interrupções por toxicidade hematológica foram reportadas. Eletrocardiogramas alterados foram observados em 106 (5,6%) pacientes durante a exposição à AMB e 39 (2,1%) após o fim da terapia, sem qualquer interrupção/descontinuação nos primeiros 14 dias devido à cardiotoxicidade. Sessenta (17,2%) mortes também foram reportadas durante as duas primeiras semanas de tratamento com AMB. Nenhuma estava diretamente relacionada ao polieno. Conclusões: As formulações lipídicas apresentaram perfis semelhantes de segurança, não havendo diferenças estatísticas significativas quanto à nefrotoxicidade entre elas. No entanto, quando comparadas à D-AMB, sim (p<0.0001). A escolha correta de uma preparação lipídica de AMB é fundamental para minimizar os efeitos nocivos e evitar a toxicidade.