APLICAÇÃO DO ALGORITMO REVERSO ASSOCIADO A UM TERCEIRO TESTE TREPONÊMICO PARA TRIAGEM DE SÍFILIS NOS DOADORES DE SANGUE DO HEMOCENTRO UNICAMP

Abstract

Objetivos: Sífilis é uma doença reemergente e transmissível por transfusão sanguínea. Apesar do baixo risco de sua transmissão transfusional, mantém-se obrigatória sua triagem. Há dois algoritmos propostos para diagnóstico: tradicional e reverso. No primeiro, recomenda-se o uso de teste não treponêmico seguido por treponêmico. No segundo, treponêmico seguido por não treponêmico. Sendo este negativo, preconiza-se uso de outro teste treponêmico a fim de aumentar o valor preditivo positivo do resultado inicial. Este estudo se justifica pela necessidade de avaliar o aumento na prevalência de sífilis nos doadores deste Hemocentro, pelo impacto da implementação de um terceiro teste treponêmico no algoritmo reverso e pela utilização dos resultados na correlação com grupos de doadores com resultados prováveis falso positivos, cicatriz sorológica e sífilis ativa. Material e métodos: Realizou-se uma análise transversal retrospectiva dos resultados de triagem laboratorial para sífilis nas amostras de doações obtidas nos períodos 2017 a 2020 e 2021 a 2024. Para comparar a prevalência de sífilis entre os períodos, foram avaliados os casos verdadeiramente positivos (CMIA Alinity i Abbott e VDRL Wiener positivos). Para avaliar o impacto da implementação do terceiro teste (imunocromatografia rápida Bioclin ou Abbott), comparou-se no período de 2021 a 2024, os resultados reagentes para sífilis e as conclusões com e sem o terceiro teste. Análises estatísticas foram realizadas para correlacionar os resultados de reatividade da CMIA com os grupos de doadores. Resultados: No período de 2017 a 2020, das 236.540 amostras triadas, 349 foram verdadeiro positivas (0,15%). Enquanto que das 204.524 amostras triadas entre 2021 a 2024, foram 375 (0,18%), indicando um aumento na prevalência entre os períodos. A avaliação da aplicação do terceiro teste evidenciou que de 1.036 resultados reagentes, 664 (64,1%) apresentaram VDRL negativo, permanecendo como resultados discrepantes. Quando aplicado o terceiro teste treponêmico nestas amostras com resultados discrepantes, foi possível identificar 339 (51,05%) prováveis falso positivos na triagem e 325 (48,95%) prováveis cicatrizes sorológicas. As médias dos valores dos resultados de reatividade da CMIA para os grupos de prováveis falso positivos, cicatriz sorológica e verdadeiro positivos foram respectivamente 1,82 (DP = 0,80); 10,20 (DP = 5,73) e 16,50 (DP = 4,25). Discussão: Os resultados obtidos indicaram um aumento na prevalência dos casos de sífilis entre os doadores de sangue deste Hemocentro, em acordo com dados da literatura. O uso de um terceiro teste treponêmico (IC) evidenciou um ganho no valor preditivo positivo da CMIA, permitindo melhor caracterizar os resultados discrepantes entre CMIA e VDRL. As análises estatísticas mostraram ser possível estabelecer valores de CMIA preditivos para os grupos definidos, aumentando a confiabilidade dos resultados. Conclusão: Conclui-se que é necessária a aplicação de um algoritmo adequado para a triagem e identificação das infecções assintomáticas de sífilis. O uso do algoritmo reverso associado a um terceiro teste treponêmico com a estratificação de valores de reatividade de CMIA permite reduzir as interpretações de resultados como falso positivos entre os doadores de sangue possibilitando uma conduta mais adequada de orientação e/ou acompanhamento para possível reentrada destes doadores.