Da medicalização da comida à gourmetização do medicamento: análise da campanha publicitária que transformou um comprimido efervescente em febre nacional
Adriana Aguiar Aparício Fogel,
Sandro Tôrres de Azevedo,
Patrícia Padrão,
José Azevedo
Affiliations
Adriana Aguiar Aparício Fogel
Universidade do Porto, Instituto de Saúde Pública, Unidade de Investigação em Epidemiologia; Laboratório para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional; Faculdade de Letras. Porto.
Sandro Tôrres de Azevedo
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Escola de Comunicação, Laboratório de Comunicação Publicitária Aplicada à Saúde e à Sociedade. Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Grupo de Pesquisa em Publicidade, Saúde e Sociedade. Rio de Janeiro, RJ
Patrícia Padrão
Universidade do Porto, Instituto de Saúde Pública, Unidade de Investigação em Epidemiologia; Laboratório para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional; Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação. Porto,
José Azevedo
Universidade do Porto, Instituto de Saúde Pública, Unidade de Investigação em Epidemiologia; Laboratório para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional; Faculdade de Letras. Porto.
O aumento da longevidade humana veio acompanhado de uma maior preocupação com os hábitos alimentares e de uma banalização das dietas prescritas, favorecendo um contexto de medicalização da comida, no qual a fronteira entre alimento e medicamento fica imprecisa. Isto tem sido usado mercadologicamente pelas indústrias alimentícias, farmacêuticas e de suplementos alimentares. Este artigo visa discutir como o ecossistema publicitário contemporâneo e a ciberpublicidade são utilizados para naturalizar a presença de suplementos e medicamentos na dieta cotidiana. Usou-se como estudo de caso uma campanha publicitária vietnamita, em que um comprimido foi posicionado como ingrediente culinário. A partir de outros casos descritos na literatura, discutem-se os resultados encontrados no contexto ocidental. Nas considerações finais, apresentam-se alguns desafios regulatórios; apontam-se perspectivas para pesquisas futuras; e defende-se a educação como elemento fundamental para a construção de uma sociedade em que a saúde seja valorizada e exigida como bem coletivo e direito de todos.