Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício (Feb 2021)
Nossas recomendações de 'dose-resposta' de atividade física para proteção contra doenças crônicas e mortalidade estão corretas?
Abstract
É praticamente consensual que atividade física e exercício físico (AF/EF) protegem contra várias doenças crônicas não transmissíveis e mortalidade. Entretanto, a relação 'dose-resposta' não está clara. Ainda está sob investigação quais (modalidades, tipos) e quanto (intensidade e volume) de AF/EF (dose) promovem melhor resposta. As principais recomendações apontam intervalo aproximado de 500 a 1750 MET.min/sem, ou 150 a 300 min/sem de esforço moderado, ou ainda 75 a 150 min/sem de esforço vigoroso. Nesse documento desafiamos o uso do MET ou Kcal como referencial para dose de AF/EF, e destacamos que o efeito protetor da AF/EF pode ser obtido com doses menores e maiores ao atualmente recomendado. Entretanto, para que isso seja possível há uma necessidade aparente de se alcançar adequado "equilíbrio intensidade-volume" (EIV). Propomos que é possível obter efeito protetor em diferentes cenários, como AF/EF de "altíssima intensidade vs. baixíssimo volume" ou "altíssimo volume vs. baixíssima intensidade", desde que o EIV seja adequado. Apontamos aqui importantes limitações das recomendações mais usuais de AF/EF ao tratar à dose-resposta, pois tais recomendações são paradoxalmente restritivas e ilimitadas. São restritivas porque consideram basicamente AF/EF no tempo de lazer, aeróbias e cíclicas, restringindo volume a um dado intervalo de tempo e limitando intensidade a duas categorias de esforço (moderado e vigoroso). Além disso desconsideram doses < 500 MET.min/sem como efetivas na proteção. São ilimitadas porque sugerem que "quanto mais AF/EF, melhor", o que não parece legítimo a luz das evidências científicas. Sustentamos nossa proposta a partir do conhecimento científico acumulado, trazemos elementos adicionais para alimentar reflexões sobre esse importante tópico.