INVESTIGAÇÃO DA UTILIZAÇÃO RACIONAL DE TRANSFUSÕES DE HEMÁCIAS EM UM HOSPITAL PÚBLICO NA ZONA NORTE DE SÃO PAULO - ANÁLISE RETROSPECTIVA DE PATIENT BLOOD MANAGEMENT

Abstract

Objetivos: Aperfeiçoar a gestão na área de hemoderivados é uma necessidade constante, devendo ser realizada uma análise criteriosa das indicações e dispensações de hemoderivados. O objetivo deste estudo foi realizar uma análise das principais solicitações de transfusões de Concentrados de Hemácias (CH) em uma unidade de saúde terciária e se as mesmas seguiam as diretrizes de transfusões sanguíneas atuais com princípios de Patient Blood Management (PBM). Material/métodos: Estudo observacional, retrospectivo, realizado através da análise de solicitações de transfusão de CH, entre janeiro e março de 2024 em uma unidade hospitalar. Comparando os achados com os critérios transfusionais previstos por diretrizes de transfusão do Ministério da Saúde (MS) do Brasil, da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular) e da AABB (American Association of Blood Banks). O estudo foi submetido e aprovado pelo comitê de ética da instituição - CAAE 80636224.7.0000.5551. Resultados: No total foram analisada 512 solicitações de transfusão de CH, sendo excluídos Reservas Cirúrgicas, menores de 18 anos e solicitações de hemocomponentes que não CH. Os dados foram categorizados entre nível sérico de hemoglobina (Hb) maior que 7g/dL estáveis (36%), nível de Hb maior que 7g/dL instáveis (3%) e nível de Hb menor que 7g/dL (61%). Além disso, foi possível avaliar as principais causas que levaram à necessidade transfusional dentro de cada categoria, no geral se destacaram as causas Gastrointestinais (18%), Oncológicas (10,74%), Hemodinâmicas (9,76%), Traumatológicas (8,39%), Infecciosas (7,42%), Hematológicas (5,85%) e Cardiológicas (2,34%). Além disso, foram analisadas solicitações de pacientes em contexto de Pré (8,98%) e Pós-Operatório (3,71%). Discussão: Existe uma preocupação em relação a transfusão de hemocomponentes, visto a escassez do recurso e também os riscos associados ao procedimento. O MS orienta a transfusão de CH quando o nível de Hb é inferior a 7g/dL, independente da estabilidade clínica. Este parâmetro é condizente com a diretriz de 2023 da AABB que recomenda uma estratégia transfusional restritiva. Em pacientes com Hb entre 7 e 10 g/dL, a indicação depende da clínica, considerando-se principalmente a estabilidade hemodinâmica. Ao analisar os dados é possível inferir que a maior parte das transfusões realizadas são em contexto de baixos níveis de Hb, contudo há uma incidência relevante de transfusões em pacientes estáveis ou com níveis de Hb aceitáveis. Existe um viés no protocolo transfusional intra-hospitalar atual que não discerne a estabilidade clínica ou o contexto cirúrgico do paciente, fato que por si só altera o contexto transfusional conforme previsto pelo consenso de PBM atual da ABHH. Conclusão: O uso desnecessário de sangue pode resultar em custos adicionais para o sistema de saúde e contribuir para a escassez de recursos sanguíneos. É fundamental adotar estratégias como o PBM para garantir uma abordagem mais segura e eficaz no cuidado. A partir do estudo é possível inferir que apesar da maioria das transfusões de CH seguirem as normas atuais, ainda existe um excesso transfusional. Os dados avaliados foram utilizados para sugerir uma mudança no protocolo transfusional intra-hospitalar considerando as necessidades individuais dos pacientes. Assim, será possível promover um cuidado mais eficiente e sustentável, beneficiando tanto o sistema de saúde quanto os pacientes que realmente precisam de transfusões.