Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
AVALIAÇÃO DE UM PACIENTE COM HISTÓRIA FAMILIAR DE LINFOHISTIOCITOSE HEMOFAGOCÍTICA
Abstract
Introdução: A linfohistiocitose hemofagocítica (LHH) é uma síndrome rara e potencialmente fatal caracterizada por uma ativação exagerada do sistema imunológico que resulta em hemofagocitose. Pode ocorrer de forma primária, frequentemente associada a mutações genéticas, ou secundária a uma variedade de gatilhos, incluindo infecções virais, doenças malignas e condições autoimunes. O diagnóstico precoce é crucial, pois a progressão da doença pode levar a complicações graves. Objetivo: Demonstrar a importância da avaliação genética em pacientes com histórico familiar importante de LHH. Caso clínico: D.S.A, 7 meses e 10 dias, sexo masculino, natural de Monte Santo, Bahia. Encaminhado para ambulatório de hematologia do Hospital da Criança das Obras Sociais Irmã Dulce (HC-OSID) com histórico familiar de LHH. Pais não consanguíneos, hígidos. Paciente quarto filho do casal (G4P4A0) e 2 irmãos falecidos (2ºe 3º), uma irmã de 12 anos, hígida. Certidão de óbito do segundo irmão consta causa da morte gastroenterocolite aguda aos 2 meses. O terceiro irmão faleceu aos 10 meses de vida, por choque séptico secundário a LHH, infecção por citomegalovírus e síndrome de Stevens Johnson. Solicitado painel genético para síndrome hemofagocítica e doenças autoimunes. Foi encontrada variante patogênica em heterozigose em condição recessiva que pode estar associada ao quadro clínico apresentado. Variante c.1621G>A no gene STXBP2; Discussão: A LHH é uma síndrome agressiva e com risco de vida devido a ativação imunológica excessiva. Afeta mais frequentemente crianças desde o nascimento até aos 18 meses de idade, como no caso dos irmãos do paciente relatado, mas também é observada em crianças e adultos de todas as idades. A LHH pode ocorrer como um distúrbio familiar ou esporádico e a infecção é um gatilho comum em ambos os casos. O tratamento imediato é fundamental, mas a maior barreira para um resultado bem-sucedido é o atraso no diagnóstico devido à raridade desta síndrome, à apresentação clínica variável e à falta de especificidade dos achados clínicos e laboratoriais. A informação genética pode ser útil para determinar a probabilidade de recorrência, a necessidade de transplante de células hematopoiéticas e o risco de LHH em familiares. A herança da patologia é autossômica recessiva e muitos casos estão relacionados à consanguinidade; no entanto, a heterozigosidade para uma mutação pode ser encontrada num adulto com LHH. A mutação encontrada no paciente no gene STXBP2 leva a liberação de grânulos citotóxicos. Conclusão: A identificação da mutação em heterozigose tem implicações significativas para o manejo clínico do paciente e para a orientação de seus familiares. Embora o portador de mutação em heterozigose não apresenta necessariamente a doença de forma completa, pode estar em risco aumentado para manifestações subclínicas ou desencadear a condição em situações específicas. No caso foi recomendado a consulta com a genética e acompanhamento com pediatra, sem a necessidade de intervenções terapêuticas imediatas. O aconselhamento genético tem papel crucial na educação do paciente e família sobre a natureza da condição, riscos potenciais e importância da vigilância contínua. Estudos futuros são necessários para melhor compreender a expressão clínica e implicações genéticas de mutações heterozigóticas em LHH, contribuindo para estratégias de manejo mais personalizadas e eficazes.