Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS E GRUPOS SANGUÍNEOS ABO: EXPLORANDO SUA INTERSECÇÃO EM PACIENTES COM COVID LONGO
Abstract
A COVID longa é caracterizada pela persistência de sintomas após a fase aguda da infecção por SARS-CoV-2. Embora a etiologia dos sintomas permaneça indeterminada, evidências sugerem o envolvimento de processos imuno-inflamatórios. Estudos recentes sugeriram um potencial impacto dos grupos sanguíneos ABO na suscetibilidade à COVID-19 e na gravidade da doença. Objetivo: Analisar a interação entre os grupos sanguíneos ABO de indivíduos com sintomas prolongados pós-infecção por COVID-19 e as anormalidades hematológicas. Metodologia: Os critérios de inclusão foram pacientes com idade ≥18 anos que estiveram internados com COVID-19 e apresentaram sintomas após 90 dias do diagnóstico. Excluímos quem estava em anticoagulação antes da internação por COVID-19 ou no momento da inclusão. Foram recrutados pacientes de 12/07/2022 a 04/09/2023 no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) no Rio de Janeiro. Resultados: Os participantes se originaram de dois grupos: 215 pacientes admitidos no INI provenientes do RECOVER SUS; e 8 voluntários que foram internados em outros hospitais da rede. Identificamos 215/264 (81,4%) pacientes hospitalizados com sintomas de COVID-Longa do Estudo RECOVER SUS. Dos 223 participantes elegíveis, 3 foram excluídos porque usavam anticoagulantes profiláticos para fibrilação atrial. Ao final, foram analisados 220 participantes, com mediana de dias de acompanhamento e IQR de 655 dias (430‒818). A distribuição dos grupos sanguíneos foi O (113), A (80), B (22) e AB (5). A mediana faixa etária foi de 58 anos e IQR de 47‒67, com frequência de 100 (45,5%) indivíduos do sexo feminino. Identificamos que 114 participantes apresentaram alguma alteração sendo mais prevalente em mulheres (53,5%). As alterações hematológicas foram contagem plaquetária anormal 4 (1,8%), tempo de Tromboplastina Parcial (TTP) elevado 22 (9,5%), d-dímero elevado 56 (25,5%), e fibrinogênio elevado 80 (36,4%). 42 indivíduos apresentaram anormalidades em ≥2 marcadores. Os sintomas mais relatados foram neurológicos em 201 (15,7%), psiquiátricos em 170 (13,3%), musculoesqueléticos em 151 (11,8%) e cardiovasculares em 132 (10,3%). Não observamos associação entre grupos ABO e alterações hematológicas. Discussão: Mais de 200 sintomas foram descritos em casos de COVID Longo e inflamação persistente pode estar implicada na fisiopatologia. Nossa coorte identificou mais de 1.282 sintomas em 220 voluntários. Os grupos de sintomas mais frequentemente observados foram semelhantes a outros trabalhos. Nosso estudo mostrou uma prevalência de COVID Longo mais alta que a literatura, que é de 50%‒70% dos casos hospitalizados. Diferente do esperado, a maioria dos nossos participantes foi do sexo masculino. Nosso estudo não observou correlação entre os grupos ABO e alterações hematológicas em pacientes com COVID Longo. No entanto, destacamos a elevação do d-dímero e fibrinogênio em nossos pacientes, indicativos de inflamação crônica. Conclusões: Nosso estudo reforça que achados inflamatórios crônicos podem persistir em pacientes que apresentam sintomas de COVID-19 a muito longo prazo. Não foi possível estratificar o risco inflamatório baseado nos tipos sanguíneos ABO. Isso sugere que o tipo sanguíneo ABO não influencia significativamente as respostas inflamatórias em pacientes com COVID longa. Estudos adicionais devem explorar os mecanismos envolvidos na inflamação crônica em pacientes com COVID-Longa.