Revista Subjetividades (Oct 2005)

O aparato de combate ao crime e a sensação de insegurança

  • Maria Léa Monteiro de Aguiar

Journal volume & issue
Vol. 5, no. 2

Abstract

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Os gastos do Estado com as forças da lei e da ordem crescem no mundo inteiro, com o pretenso propósito de garantir segurança aos cidadãos. Não obstante esses gastos cada vez maiores com equipamentos de segurança, efetivos policiais, construção de prisões e com um crescente encarceramento de pessoas, a sensação de insegurança permanece e chega ao limite do suportável nos grandes centros urbanos. O sentimento subjetivo de insegurança parece aumentar em função mais do aparato de combate ao crime que do crime propriamente. A sensação de insegurança cresce, sobretudo por estar o aparelho repressivo voltado para a vasta camada de população mais pobre, que, evidentemente, é mais numerosa que a do topo social. Dessa ligação fictícia entre a criminalidade e a pobreza, advém o medo exagerado que as classes mais abastadas vêm desenvolvendo contra os guetos e os enclaves populacionais habitados por pobres, nas metrópoles. Não por acaso, são esses guetos os grandes fornecedores da população carcerária, que se agiganta no mundo todo, provocando, por sua vez, mais exclusão, revolta e, conseqüentemente, mais insegurança. A crise da segurança tem sido uma constante nas sociedades modernas e cresce junto com a urbanização. Por outro lado, os crimes violentos exercem uma verdadeira sedução sobre as pessoas, recebendo, em conseqüência, um tratamento privilegiado nos meios de comunicação de massa. Desse modo, essa crise pode ser uma construção política sobre um problema que é crônico no meio urbano impessoal. O sentimento de “estar seguro”, portanto, talvez só possa ser proporcionado pelas comunidades, mas nem os guetos de excluídos, nem tampouco as fortalezas de segurança que os ricos constroem em bairros protegidos, podem ser assim denominados. Palavras-chave: segurança, prisão, comunidade, guetos, criminalidade