Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

MANEJO DE SANGUE RARO IDENTIFICADO NO INTERIOR DE SÃO PAULO

  • MO Alvarenga,
  • MM Yamatsuka,
  • RAM Lopes,
  • RCM Francisco,
  • FA Oliveira,
  • AB Castro,
  • CL Miranda,
  • PC Garcia-Bonichini

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S663

Abstract

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Objetivos: A busca na identificação de fenótipos específicos é uma prática inerente aos bancos de sangue como conduta frente à pesquisa de anticorpos irregulares positiva ou precaução à aloimunização de pacientes politransfundidos. O fenótipo dito “raro”é definido como a ausência de antígenos de alta prevalência na população, que variam de acordo com a região estudada e grupos étnicos envolvidos. Uma dessas configurações antigênicas raras é o fenótipo KEL null (KO), que não expressa antígenos relacionados à glicoproteína KEL na membrana eritrocitária. O presente trabalho relata um caso identificado no interior de São Paulo, na cidade de Botucatu, no Hemocentro do Hospital das Clinicas HCFMB. Materiais e métodos: Na unidade HCFMB, as amostras de doadores de sangue são rotineiramente submetidas à fenotipagem RH e KEL pelo equipamento automatizado. Com o resultado liberado e mediante demanda, a fenotipagem estendida é realizada, empregando as técnicas de gel-centrifugação ou técnica em tubo, a depender da disponibilidade de insumos e reagentes. Os resultados são então repassados ao sistema informatizado do banco de sangue e as informações compiladas para atualização e preenchimento do formulário do Cadastro Nacional de Sangue Raro (CNSR), quando cabível. Relato de caso: Doador de repetição desde 2019, caucasoide, de 40 anos, com tipagem ABO/Rh O positivo, R1R1 e fenótipo raro identificado em outubro de 2021 durante a realização da fenotipagem estendida para os antígenos do sistema RH, KEL, MNS, FY, JK, LE e DI. Resultado demonstrou ausência na expressão dos antígenos KEL1, 2, 3 e 4, com fenótipo estendido resultante: DCCee, Cw-, K-, k-, Kp(a-,b-), Fy(a-,b+), Jk(a+,b+), Le(a-,b+), MN, S-, s+, Dia-. Nova amostra foi solicitada para confirmação da fenotipagem e para realização da genotipagem eritrocitária em laboratório de apoio. Resultados identificaram a presença de genes codificantes dos antígenos k e Kpb, mas com ausência de sua expressão na superfície celular, devido a particularidades genéticas ainda não elucidadas. Discussão: O rastreamento de fenótipos raros e a fidelização do doador são essenciais para o remanejo de sangue em casos imuno-hematológicos complexos. Em março de 2023, o próprio Hemocentro HCFMB foi acionado pela Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados na busca de possíveis doadores fenótipo K0. A literatura demonstra maior prevalência do fenótipo em países como Japão, Finlândia e Reino Unido, com presença estimada em apenas 0,01% da população. O caso foi avaliado e repassado à captação, que logo convocou o respectivo doador para a coleta de sangue total e a bolsa encaminhada ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Piauí, onde foi transfundida em uma paciente de 38 anos, internada com anemia grave, na cidade de Teresina. A mesma também apresentava o fenótipo K0, com anticorpo circulante Anti-Ku identificado. Conclusão: A variabilidade de fenótipos encontrados no Brasil é extensa e alguns fenótipos raros são eventualmente identificados durante a rotina laboratorial em virtude das técnicas disponíveis hoje, que auxiliam na caracterização eritrocitária do doador. O exemplo trouxe a luz a importante dinâmica que existe entre os bancos de sangue na investigação e rastreio de fenótipos, na atualização de registros e no remanejo de sangue raro, através da plataforma do CNSR, reforçando sua importância dentro do cenário hemoterápico.