Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
USO DE INIBIDORES DA TIROSINA-QUINASE EM GESTANTE COM LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA
Abstract
Objetivo: Discutir os riscos e benefícios do tratamento da leucemia mieloide crônica com inibidores da tirosina-quinase em gestantes. Material e métodos: Revisão de prontuário de gestante com o diagnóstico de leucemia mieloide crônica (LMC) acompanhada no serviço de Onco-Hematologia do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória e revisão de literatura. Resultados/relato de caso: Feminino, 24 anos, com LMC, descobriu gravidez pouco tempo após o início do tratamento com inibidor da tirosina-quinase (ITQ) Imatinibe, sendo orientada a interrompê-lo. Após três meses, devido à progressão da doença, o tratamento com o Imatinibe foi reiniciado no 5º mês da gravidez. Pré interrupção, paciente apresentava resposta molecular maior, porém, após a reintrodução do ITQ, apresentou resistência ao medicamento, sendo necessária a troca para o Dasatinibe. Depois de 2 meses da troca do fármaco, a paciente deu à luz à recém-nascido a termo, sem evidências de malformações. Discussão: O uso de inibidores da tirosina-quinase tem se mostrado eficaz no controle da LMC e na melhoria da sobrevida em pacientes não grávidas. No entanto, surgem questões éticas e clínicas sobre o uso desses medicamentos em gestantes, devido aos efeitos pouco compreendidos no feto. A decisão de continuar o tratamento com ITQ durante a gravidez ou interrompê-lo para monitorar o quadro clínico da mãe é complexa. No relato de caso, inicialmente optou-se por suspender o uso do medicamento durante a gravidez e realizar acompanhamento mensal com exames laboratoriais, como hemograma completo e relação BCR-ABL no sangue periférico, para monitoramento de progressão. Posteriormente, foi necessária a reintrodução do ITQ devido evolução desfavorável da doença. Alguns estudos escassos demonstram que os ITQ foram utilizados com sucesso no tratamento da LMC durante a gravidez, especialmente quando a doença é agressiva e ameaça a vida da mãe. Mulheres que interromperam o tratamento com Imatinibe antes de alcançar a resposta molecular maior apresentaram maior probabilidade de resistência quando retomaram o tratamento com o mesmo inibidor. Além disso, estudos mostraram potencial para recaída durante a gestação, mesmo em pacientes com resposta molecular sustentada antes da interrupção do ITQ. Em casos de resistência, é recomendado substituir o Imatinibe por Dasatinibe ou Nilotinibe. Os ITQ possuem potencial teratogênico, portanto, a decisão de usá-los durante a gravidez deve ser cuidadosamente avaliada, discutida entre as partes envolvidas e acompanhada por profissionais de saúde devidamente capacitados. Conclusão: O tratamento com ITQ durante a gravidez apresenta grandes desafios e riscos. Entretanto, com monitoramento adequado, exames laboratoriais e consultas regulares, é possível obter resultados satisfatórios em relação à progressão da doença e à saúde fetal. É essencial discutir e esclarecer dúvidas sobre os riscos da terapia com ITQ na gravidez, garantindo um tratamento em acordo com a paciente. Apesar dos obstáculos enfrentados, como a resistência ao Imatinibe, o caso relatado apresentou um desfecho favorável. A paciente com LMC chegou ao fim da gestação em resposta hematológica completa, resposta molecular maior e deu à luz a um bebê saudável, a termo, sem malformações, com peso adequado para a idade gestacional, sem indícios de falência placentária, demonstrando que o uso de inibidores da tirosina-quinase pode ser viável em gestantes.