Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)

CLAREAMENTO ESPONTÂNEO DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM INDIVÍDUOS QUE VIVEM COM HIV: O QUE HÁ DE NOVO SOBRE O TEMA?

  • Rosario Quiroga Ferrufino,
  • Maria Cássia Mendes Correa,
  • Camila Rodrigues,
  • Daniel Gleison Carvalho,
  • Silvia Monica Yapura Jaldin

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102425

Abstract

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Introdução: Estudos recentes têm revelado modificações importantes no comportamento epidemiológico da infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) em nosso meio, particularmente entre aqueles que vivem com HIV. No Brasil, poucos dados são disponíveis a este respeito. Objetivo: Avaliar características clínicas e epidemiológicas de indivíduos com HIV, que tenham adquirido a infecção pelo VHC, em nosso meio, após 2015. Método: Estudo epidemiológico observacional transversal retrospectivo de uma coorte de indivíduos que vivem com HIV, acompanhados em ambulatório de referência, na cidade de Sao Paulo. Dentre todos os indivíduos em seguimento nesse serviço, no periodo compreendido entre janeiro e dezembro de 2017, inicialmente buscou-se todos aqueles que apresentavam co-infecção pelo VHC. Posteriormente foram selecionados todos aqueles com diagnóstico de infecçao pelo VHC comprovadamente adquirida após o ano 2015. Características clínicas e epidemiológicas destes pacientes foram então analisadas. Para as análises os testes de associação usados foram: teste de qui-quadrado, testes exatos de Fisher ou o teste de razão de verossimilhança; assim para comparação das variáveis foram utilizados o teste de T de Student e teste de Mann Whitney. Regressão logística foi utilizada para estimar o Odds Ratio (OR) com 95% de intervalo de confiança. Resultados: Entre 3143 pacientes infectados pelo HIV em seguimento neste período, 48 foram identificados com infecção pelo VHC adquirida após 2015. Entre eles, o mecanismo de exposição sexual foi identificado como o único fator de exposição ao VHC em 33 pacientes (68,7%). Assim também entre os 48 pacientes, 23(47,9%) apresentaram clareamento espontâneo do VHC. Em análise uni variada estiveram associados a uma maior chance de clareamento espontânea, as seguintes variáveis: sexo feminino, elevada contagem de células T CD4+ e elevação de TGO e TGP no momento do diagnóstico da infecção pelo VHC. Em análise multivariada, apenas o nível de células T CD4+ no diagnóstico de VHC permaneceu associado ao clareamento espontâneo (p = 0,025). Conclusão: 1- A condição imunológica destes pacientes no momento de exposição ao VHC foi fator determinante para a resolução espontânea ou não desta infecção neste grupo de pacientes; 2- O mecanismo de exposição sexual revelou-se o mais frequente mecanismo de transmissão do VHC entre indivíduos vivendo com HIV, no nosso meio na atualidade.