Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
HIPERPIGMENTAÇÃO DO PALATO DURO INDUZIDA POR MESILATO DE IMATINIBE EM UM PACIENTE COM LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA: RELATO DE CASO
Abstract
A Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é uma neoplasia onco-hematológica caracterizada pela expansão clonal de uma célula-tronco pluripotente que se diferencia em linhagem mieloide. A LMC representa entre 15% e 20% de todas as leucemias. Em cerca de 95% dos casos, há a expressão do cromossomo Filadelfia e do seu gene quimérico BCR-ABL que são derivados da translocação dos braços longos dos cromossomos 9 e 22. Assim, a expressão do gene quimérico leva à tradução da oncoproteína p210BCR-ABL que eleva a atividade da enzima tirosina quinase resultando no desenvolvimento e proliferação das células neoplásicas. Os sinais e sintomas variam de acordo com as fases da doença, que podem ser classificadas em crônica, acelerada ou crise blástica. A maioria dos pacientes permanece na fase crônica e apresenta poucos sinais e sintomas como fadiga relacionada à anemia, febre e leucocitose e apresentam no máximo 10% de células blásticas no sangue periférico. O mesilato de imatinibe (MI), um inibidor da tirosina quinase, é atualmente o fármaco de primeira-linha utilizado no tratamento da LMC. Este relato apresenta um caso de hiperpigmentação do palato duro associada à terapia de longo prazo com MI em um paciente com LMC. Homem branco, com 43 anos de idade, foi encaminhado ao Centro de Oncologia Bucal da Faculdade de Odontologia do Campus de Araçatuba (COB/FOA-UNESP) para avaliação de uma mancha acinzentada na mucosa do palato duro. Durante a anamnese, o paciente relatou o diagnóstico de LMC há 8 anos. O paciente foi submetido inicialmente ao tratamento com hidroxiuréia (500 mg/dia/V.O.) por um ano. Em seguida, retomou o tratamento da doença durante 7 anos com MI (400 mg/dia/V.O.) apresentando resposta hematológica e citogenética satisfatórias. O paciente também relatou consumir cerca de 8 cigarros de papel diariamente nos últimos 20 anos. No exame físico, observou-se uma mancha acinzentada, simétrica e definida em toda a mucosa do palato duro. A radiografia panorâmica não mostrou alterações ósseas. A biópsia incisional foi realizada a fim de excluir malignidade. O exame anatomopatológico mostrou epitélio queratinizado e tecido conjuntivo com partículas pigmentadas. Depósitos de partículas birrefringentes acastanhadas estavam associados à fibras colágenas. Não se observou melanose de células basais epiteliais e hiperplasia melanocítica. Também não havia hemorragias. Os achados clínicos e microscópicos levaram ao diagnóstico de hiperpigmentação induzida por IM. O paciente foi orientado em relação ao diagnóstico e está em acompanhamento clínico no COB por nossa equipe interdisciplinar.