Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

EXPERIÊNCIA DE UM SERVIÇO DE HEMOTERAPIA NA BUSCA E SELEÇÃO DE BOLSAS DE CONCENTRADO DE HEMÁCIAS PARA USO EM RECÉM-NASCIDOS

  • SB Leite,
  • RM Benites,
  • G Zucchetti,
  • L Sekine,
  • JPM Franz

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S784

Abstract

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Introdução/objetivos: A busca por Concentrado de Hemácias (CH) destinados aos Recém-Nascidos (RN) é um desafio nos serviços de hemoterapia, devido necessidade de seleção criteriosa do hemocomponente para minimizar os potenciais riscos relacionados à transfusão, associados ao aumento dos níveis de potássio e/ou risco de reação hemolítica associado a altos títulos de isoaglutininas. O objetivo do trabalho foi avaliar a elegibilidade de bolsas de concentrado de hemácias a partir da titulação de isoaglutininas anti-A e Anti-B para uso em recém nascidos. Material e métodos: Foram analisados os títulos de anti-A e anti-B IgM e IgG em amostras de sangue de doadores do grupo O RhD positivo e RhD negativo. O período avaliado foi de abril a julho de 2023 no Serviço de Hemoterapia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Foram considerados os seguintes critérios de seleção do CH para titulação para uso na neonatologia: bolsa de sangue coletada com solução anticoagulante CPDA-1, com até 3 dias de irradiação, O RhD negativo C, E e K negativo. A titulação seriada para IgM e IgG foi realizada no equipamento automatizado NEO Iris®Immucor ‒ Fresenius Kabi e utilizou as hemácias A1 e B. Primeiramente foi realizada a titulação IgM em tubo na bancada, com ponto de corte 1:100. As amostras com IgM <100 foram analisadas no equipamento para IgM em 4 pontos (≤16, 32, 64 e ≥128) e IgG em 8 pontos (≤16, 64, 128, 256, 512, 1024. 2048, ≥4096). Resultados: Avaliamos a elegibilidade de 235 amostras conforme a necessidade do serviço, primeiramente considerando os títulos IgM≤16 e IgG≤32. Destas, 82 apresentaram título de anti-A e anti-B de IgM superior ao ponto de corte na bancada, 46 apresentaram apenas título superior para anti-A e 22 apenas para anti-B. Desse modo, 150 (63,8%) amostras não foram para investigação complementar. Das 85 amostras testadas para IgM no NEO, 39 apresentaram alto título de anti-A e 30 título anti-B. Desse total, 66 amostras foram testadas para IgG, 30 apresentaram alto título de anti-A e 21 para anti-B. Do total de 235 amostras testadas, 10 (4,3%) foram elegíveis pelo título de IgM e IgG. Em uma segunda avaliação, analisamos as titulações de IgM ≤32 e IgG ≤64, onde obtivemos um aumento de 130% na disponibilidade de CH (23%‒9,8%). Discussão: A presença de altos títulos de isoaglutininas também pode estar relacionada a existência de outras variáveis como o efeito sazonal, a influência do ambiente, alimentação e outras condições fisiológicas do doador. Os critérios de seleção restritivos estabelecidos na nossa instituição, associado aos períodos de baixo estoque de CH O RhD positivo e negativo, reduziram ainda mais a disponibilidade de bolsas para neonatologia. Devido a dificuldade em manter o estoque suficiente para atender a demanda transfusional de todos os RNs até 4 meses, modificamos o nosso protocolo assistencial e mantivemos o título IgM ≤16 e IgG ≤32 apenas para prematuro extremo (peso inferior a 1.200g) e o título IgM ≤32 e IgG ≤64 para os RNs até 4 meses. Conclusão: Após a análise das titulações IgM e IgG para anti-A e anti-B e da demanda transfusional para neonatologia, conseguimos adequar os nossos critérios de seleção do CH sem comprometer a segurança transfusional destes pacientes, especialmente dos prematuros extremos, que são os mais suscetíveis a complicações clínicas mais graves.