Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
HEMOTRANSFUSÃO EM PACIENTES ADULTOS COM NEOPLASIA SÓLIDA EM CUIDADOS PALIATIVOS
Abstract
Nem todo paciente em cuidado paliativo (CP) encontra-se em terminalidade, e podem se beneficiar de controle sintomático ou medidas salvadoras de vida. Pacientes oncológicos em CP demandam hemotransfusão por quadro anêmico decorrente de: desnutrição, inflamação crônica, sangramentos, disfunções orgânicas (como insuficiência renal, insuficiência hepática, disabsorção, insuficiência medular, etc), tratamentos quimioterápicos, entre outros. Transfusões são realizadas em 5-18% dos pacientes em CP internados em cuidados hospitalares e em serviços de oncologia. O real benefício da hemotransfusão na população em questão ainda é tema obscuro, sendo muitas vezes tratado como panaceia. Tanto a decisão de iniciar um suporte transfusional, quando a decisão de não o realizar ou suspendê-lo, são pontos de conflito ético, dilema clínico e estrutural. Percebe-se que o suporte transfusional é realizado apesar de não definido fatores como ponto de corte, indicações clínicas ou desfecho pretendido. Haja visto a diminuta parcela de publicações acerca do tema, esse trabalho tem como objetivo discutir os resultados das publicações mais recentes, além de compará-las com as principais diretrizes vigentes. Trata-se de revisão integrativa de literatura científica nacional e internacional. Realizada busca de dados em periódicos indexados nos bancos PubMed, LILACS-BVS e SciELO; utilizados DeCs/MeSH: blood transfusion, palliative care, interligados pelo operador booleano “AND”. Delimitou-se as publicações referente aos últimos 10 anos (2011-2021). Dos 224 selecionados para análise, 15 foram incluídos no presente estudo após contemplar todos os critérios. Foram encontrados 1 estudo nível I, 1 estudo nível II, 5 estudos nível IV, 2 estudos nível V e 6 estudos nível VI. Teve-se como resultado da análise conjunta dos artigos: Indicação clínica: anemia sintomática (fadiga, fraqueza e dispneia/sensação de falta de ar, seguido de tontura e dificuldade de concentração) e sangramento agudo. Indicação laboratorial: pontos de corte e alvo terapêutico divergiram, alguns autores indicaram níveis definidos, enquanto outros analisaram os níveis utilizados em seus serviços. Indicação variou de Hb 3-10 mg/dL e alvo variou de Hb 9,8 a 12 mg/dL (sendo que níveis pré transfusionais não se correlacionaram com resposta transfusional nem melhora sintomática). Prescrição: média variou entre 1 a 4,37 U de CH por transfusão. Desfecho dos sintomas: avaliação subjetiva, baixo uso de escores validados, e com resultados divergentes; duração da melhora em 2-18,5 dias, sem melhora do status performance. Sobrevida média: 7-90 dias; aumenta o processo de terminalidade em 15 dias (versus 8 dias). Percebe-se baixa metodologia científica, muitas vezes com desenhos obscuros e de difícil replicação clínica, quando não, opiniões. É consenso entre os autores, inclusive concordante ao Ministério da Saúde Brasileiro, que a hemotransfusão deve ser indicada em pacientes em CP com anemia sintomática e sangramentos ativos, desde que a terminalidade não esteja próxima em até 7-15 dias, porém sem valor laboratorial de hemoglobina definido, e com a necessidade de reavaliar os desfechos do gatilho transfusional determinado a cada paciente. Demonstra-se a necessidade de pesquisas robustas sobre o tema, para definição de indicações claras (clínicas e laboratoriais) e avaliação de desfechos de maneira estruturada.