Belas Infiéis (Mar 2020)

A Natureza das Coisas

  • Mario Henrique Domingues

DOI
https://doi.org/10.26512/belasinfieis.v9.n2.2020.27043
Journal volume & issue
Vol. 9, no. 2
pp. 115 – 117

Abstract

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O poema épico-didático A Natureza das Coisas (De rerum natura), de Lucrécio (Titus Lucretius Carus – séc. I a.C) é uma das grandes obras literatura universal. Fundindo poesia e filosofia, trata-se da divulgação da doutrina do filósofo grego Epicuro (300 a.C), a um tempo formado nos ensinamentos de Sócrates e reformista do atomismo de filósofos pré-socráticos, principalmente de Demócrito. No âmbito da poesia, Lucrécio influenciou grandes poetas latinos que o sucederam, tais como Virgílio, Horácio e Ovídio. O poema trata principalmente da física epicurista, em que a natureza está reduzida a átomos e ao vazio. Esta física está centrada no átomo como elemento infinitesimal da matéria, à qual estão submetidas outras categorias filosóficas como a metafísica (na aceitação da hipótese da existência dos deuses, mas também na diatribe contra a superstição) e a moral (na crítica ao amor visto como desejo meramente carnal e no elogio da amizade como “contrato social”). Tendo sido solapados pelo avanço do cristianismo, Lucrécio e Epicuro sofreram pelo menos mil anos de ostracismo. As críticas de Kant aos atomistas da antiguidade e a canonização científica da mecânica dos sólidos de Newton também influenciaram nesta quarentena do epicurismo. A partir do séc. XIX o poema de Lucrécio passou a receber a atenção de filósofos, poetas e tradutores. Na filosofia, foi estudado por Henry Bergson, Michel Serres (para quem Lucrécio seria o precursor da mecânica dos fluidos), Giles Deleuze, Clément Rosset, Phillipe Sollers e André Compte-Sponville. Na poesia francesa do XX, Paul Valéry e, sobretudo, Francis Ponge ecoam o requintado imagismo de Lucrécio.

Keywords