Scriptorium (Jan 2018)
Vivência e (re)existência à margem do cânone: Olhos d’água, de Conceição Evaristo = Experience and re(existence) outside the canon: Olhos d’água, from Conceição Evaristo
Abstract
A literatura contemporânea brasileira tem se configurado como território que congrega disputas e jogos de poder, espaço de produção de contradições e desconstruções constantes. Assim, destaca-se o fato de que o monopólio da produção artística não se encontra mais estritamente ligado a grandes padrões econômicos – se, por um lado, a literatura, em sua maioria, ainda é produzida pelos mesmos rostos/experiências, por outro, a nova literatura procura ser democrática e “aposta na instituição de um sistema literário partilhado, que reconhece novas subjetividades e novos atores no mundo da cultura, e na reconfiguração do próprio termo literatura” (RESENDE, 2014). O presente artigo, entretanto, objetiva andar à margem do tapete vermelho do cânone para esquadrinhar identidades silenciadas: a mulher negra, enquanto produtora de arte, e as sexualidades não hegemônicas, enquanto representação literária. Para tanto, parte-se da análise de dois contos contidos no livro Olhos d’água (2014), da escritora Conceição Evaristo. Pode-se observar, ao final, que há uma produção de resistências discursivas e corporais à noção de campo literário brasileiro ainda como um lugar reservado à branquitude, ao falocentrismo e à heterossexualidade, – e que essa resistência literária se presta, nesse sentido, como força política que coloca em cheque a manutenção de um poder estabelecido