Cadernos de Linguística (Mar 2022)

Crise sanitária e violência simbólica

  • Mariana Jantsch de Souza

DOI
https://doi.org/10.25189/2675-4916.2022.v3.n1.id628
Journal volume & issue
Vol. 3, no. 1

Abstract

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Neste texto, apresentamos uma leitura de práticas discursivas do Presidente da República Federativa do Brasil produzidas no contexto da crise sanitária decorrente do novo Coronavírus, vivenciada em nível global desde março de 2020, conforme decretado pela Organização Mundial da Saúde. Este olhar teórico-analítico encontra esteio na Teoria do Discurso de M. Pêcheux, Análise de Discurso, sendo realizada uma articulação com o campo do Direito, visando compreender a Presidência da República enquanto lugar de exercício do poder, a partir da regulação e injunção político-jurídicas. Nessa perspectiva, os dizeres do Presidente são analisados em relação aos direitos fundamentais, ao modo como são significados nesse discurso no que se refere às questões de saúde pública que emergem nessas condições de produção. Nesse panorama, podemos compreender que o discurso em análise revela um movimento de desestruturação das referidas injunções que regulam o lugar institucional de fala da Presidência da República, sua função e papel social e institucional perante os brasileiros – revelando um desvirtuamento das mesmas e um exercício violento do poder. Resumo para não especialistas Neste artigo são analisados dizeres do Presidente da República Federativa do Brasil produzidos no contexto da crise sanitária decorrente do novo Coronavírus. Para estas reflexões, a Presidência é considerada como um lugar de fala e de exercício do poder público, a partir das determinações de nosso sistema político-jurídico e das diretrizes do princípio republicano. O foco desta leitura é compreender o modo como são significados os direitos fundamentais em relação às questões de saúde pública no contexto pandêmico. Considera-se que a atuação do Presidente está diretamente vinculada à observância dos pressupostos republicanos, dos quais sobressaem, nesse exercício de análise, a importância da dignidade humana, do direito fundamental à vida, à saúde e à sua preservação. A partir desse olhar, compreende-se que o discurso analisado revela um movimento de desestruturação das determinações político-juridicas que regulamentam esse lugar institucional de fala. Com isso, observa-se um desvirtuamento da função e do papel social da Presidência da República, promovendo um exercício violento do poder.

Keywords