Aletria: Revista de Estudos de Literatura (Dec 2014)
Comunidades essenciais, legiões demoníacas: Dostoiévski, a multidão revolucionária e o pessimismo moderno
Abstract
Este artigo busca lançar luz sobre alguns substratos da crítica de Dostoiévski a respeito dos movimentos revolucionários na Rússia da segunda metade do século XIX e suas demandas “ocidentalistas”. Para tanto, analisamos o pessimismo do autor em relação à modernidade ocidental por um ângulo ético, ontológico e político. Nossa tese é que, para Dostoiévski, a sociedade civil ocidental descendente do contrato social rousseauniano corromperia a realização secular da Rússia enquanto uma ortodoxia baseada no amor de todos por todos e de todos pelo czar. Tecemos, por um lado, uma crítica a essa idealização harmônica e unificada do povo eslavo, ao mesmo tempo que, por outro, reconhecemos a relevância da suspeita dostoievskiana para o exame da filosofia política moderna. Dostoiévski parece demandar uma inversão sem a qual não poderia haver verdadeira política: não a política enquanto utilitarismo racional a ditar a vida, mas a vida – a essência originária compartilhada e a prática constituinte do amor – a escrever continuamente a política. This article seeks to shed light on some substrates of Dostoevsky’s criticism concerning the revolutionary movements in Russia in the second half of the 19th century and their occidentalist demands. To this end, we analyze the author’s pessimism in relation to Western modernity by an ethical, ontological, and political angle. Our thesis is that for Dostoevsky the civil society which descends from Rousseau’s social contract corrupts the realization of Russia as an orthodoxy based on the love of all by all and the love of the Czar by all. We establish, on the one hand, a critique of this harmonious and unified idealization of the Slavic people, while, on the other, we recognize the relevance of Dostoevsky’s suspicion for the examination of modern political philosophy. Dostoevsky seems to demand a reversal without which there could be no real politics: not politics as rational utilitarianism dictating life, but life – the shared essence and the original constituent practice of love – to continuously write politics.
Keywords