Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
EPIDEMIOLOGIA DAS INTERNAÇÕES HOSPITALARES POR ANEMIA FALCIFORME EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO MATO GROSSO
Abstract
Objetivo: Analisar a epidemiologia das internações hospitalares por anemia falciforme em crianças adolescentes no Mato Grosso no período compreendido entre 2019 e 2023. Material e métodos: Estudo transversal, quantitativo e retrospectivo com dados secundários, obtidos do Repositório de dados dos Sistemas de Informação da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (DwWeb/SES-MT). Para a seleção dos casos foram escolhidos os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) referentes à doença falciforme: D57.0 (anemia falciforme com crise) e D57.1 (anemia falciforme sem crise). No estudo foram incluídas as internações hospitalares por AF considerando a faixa etária de 0 e 19 anos e analisando os municípios de residência, ano de internação, sexo e raça. Os dados coletados foram tabulados para distribuição de frequências absolutas e relativas. Resultados: De 2019 a 2023, houve 363 internações hospitalares por anemia falciforme em menores de 20 anos no Mato Grosso, com maior frequência de residentes do município de Várzea Grande (10,7%), seguido por Rondonópolis (8,8%), Cuiabá (6,9%) e Cáceres (5,5%). O ano com maior número de internações foi 2022, com 93 casos, seguido pelos anos de 2019 e 2023, notando-se uma queda nas internações em 2020 e 2021. Constatou-se que as internações são predominantemente masculinas (57,6%) e da raça/cor de pele parda (59%). Ao analisar a faixa etária, observou-se que houve maior número de internações em crianças entre 0 e 4 anos (39,9%), seguida pela faixa etária de 5 a 9 anos e 10 a 14 anos, ambas com 25,6%. A faixa etária de 15 a 19 anos representou 11,3% das internações. Discussão: A AF provoca anemia crônica e crises vasos-oclusivas dolorosas, resultando na necessidade frequente de hospitalizações, o que pode inviabilizar a vida escolar e social das crianças e adolescentes afetados. Nesse sentido, a maior taxa de internação nos municípios mato-grossenses apresentados revela uma possível concentração maior de jovens com anemia falciforme nessas áreas. Outrossim, a redução no número de hospitalizações em 2020 e 2021 pode estar relacionada à pandemia de Covid-19, que impactou o acesso aos serviços de saúde. Além disso, a hospitalização elevada entre indivíduos de raça/cor parda condiz com a epidemiologia da doença, que é mais comum em populações afrodescendentes. Os sintomas da anemia falciforme podem surgir no primeiro ano de vida, assim, o alto número de internações em crianças menores de 4 anos pode ser explicada pela maior vulnerabilidade desta faixa etária a complicações da doença. Isso ressalta a importância da identificação precoce dos pacientes com anemia falciforme por meio do Programa Nacional de Triagem Neonatal, para que seja instituída assistência adequada e para melhoria da qualidade de vida dessa população. Conclusão: O estudo revelou aspectos epidemiológicos importantes da anemia falciforme em crianças e adolescentes no Mato Grosso. Os dados destacam uma maior ocorrência de internações em municípios específicos e uma predominância de casos em crianças menores de 4 anos, sexo masculino e da cor parda. Logo, ressalta-se a necessidade de dar mais visibilidade para a doença no estado, avançando nas estratégias de saúde pública direcionadas para essa população.