Estudos Sociedade e Agricultura (Feb 2018)
Os vazanteiros, a agricultura de vazante e as barragens da destruição no Médio Rio Tocantins: perspectivas etnoecológicas
Abstract
As sociedades humanas distinguem-se no modo de viver e lidar com a natureza, enquanto a sociedade ocidental busca a todo custo exaurir os recursos naturais, os vazanteiros-pescadores do médio Tocantins lidam com a natureza sustentados no respeito recíproco. O propósito neste texto é pontuar e analisar as particularidades associadas a um sistema de cultivo milenar, exercido e denominado de agricultura de vazante ou “Vazantes”. Os dados foram coletados entre 2007 e 2017 no âmbito do mestrado e no desenvolvimento da tese de doutoramento concluída no início de 2018, por meio da observação participante e entrevistas semiestruturadas e não-estruturadas. Os resultados mostram que os vazanteiros-pescadores exercem o cultivo nas vazantes sob particularidades próprias que incluem medidas específicas entre covas, número de sementes, tabus, trocas e reciprocidades inerentes no cultivo agrícola e relações sociais que conformam seus modos de vida local. Além de sustentável, nesse modo de cultivo, a terra parece os compreender e eles também parecem entender a terra e suas limitações, a ponto de plantar somente os cultivares que melhor se adaptam a cada solo. A realidade local mostra que os vazanteiros, seus costumes e tradições têm sido endereçados em uma agenda que parece promover, a qualquer custo, seu desaparecimento nos próximos anos. Isto se deve ao aumento incondicional das barragens e de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) nos rios nacionais, sobretudo nas últimas décadas. Torna-se cada vez mais claro para nós, que esse fenômeno conhecido por agricultura de vazante possa estar com os dias contados no Brasil.