Cadernos de Saúde (Jun 2008)

Impacto da selecção e manutenção da mutação M184V na resposta ao tratamento antirretrovírico

  • Alexandre Carvalho

DOI
https://doi.org/10.34632/cadernosdesaude.2008.2778
Journal volume & issue
Vol. 1, no. 2

Abstract

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A mutação M184V seleccionada pelo uso de lamivudina é precoce, consistente e provoca resistência de alto nível a esse antirretrovírico. Não causa resistências cruzadas dentro da classe e reduz a capacidade replicativa de tal forma que a sua manutenção através da pressão selectiva contínua pode resultar em proveito para os doentes com infecção por vírus multirresistente e com poucas opções terapêuticas. Métodos: Estudo prospectivo, aberto, em que a 22 doentes infectados por VIH1 com a mutação M184V se alterou a terapêutica antirretrovírica com base em genotipagem, mantendo-se a prescrição de lamivudina ou emtricitabina. Através de comparação com controlo histórico foi averiguada a existência ou não de benefício virológico ou imunológico. Resultados: Não foram encontradas diferenças entre as respostas imunológica e virológica dos dois grupos. Nos efeitos adversos mensuráveis analiticamente, o grupo 3TC sofreu variação negativa da ALT (-14.3 U/ml±31.3) e o grupo controlo teve aumento de 12.1 U/ml±50.4 (p<0.05). Na análise por subgrupos, para os doentes infectados com VIH de subtipos não-b, 50% no grupo 3TC terminaram com mais de 350 CD4 por mm3 contra 21.4% no grupo controlo (p=0.127); 83.3% dos doentes do grupo 3TC terminaram com carga vírica <1000 cópias/ml contra 57.1% do grupo controlo (p=0.149). Para TAM ≤3, 93.3% dos doentes do grupo 3TC terminaram com carga vírica <1000 cópias/ml, contra 74.1% no grupo controlo (p=0.128); para um total de mutações da transcriptase reversa≤4, 100% dos doentes do grupo 3TC terminaram com carga vírica <1000 cópias/ml contra 68.2% no grupo controlo (p=0.05) Conclusões: A estratégia de adição de lamivudina ou emtricitabina aos esquemas antirretrovíricos desenhados para doentes em falência terapêutica infectados por vírus portadores da mutação M184V não é inferior à prática habitual de suspensão. Não há toxicidade acrescentada por manter 3TC ou FTC. Da análise por subgrupos concluiu-se que em doentes infectados por VIH de subtipos não-b há tendência para benefício imunológico e virológico. Verifica-se uma tendência para vantagem virológica no grupo 3TC apenas em presença de um número moderado de mutações (inferior a três TAM ou a quatro mutações da transcriptase reversa no total, além da M184V).

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