Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (Jun 2019)

Elementos sobre o manejo de hipertensão e diabetes em serviços públicos de saúde

  • Dayani Galato,
  • Cristina Trauthman

Journal volume & issue
Vol. 6, no. 1

Abstract

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Todo o homem, tão logo tome consciência de estar vivo e apto a fazer escolhas, passa a fazêlas e ao longo da vida que se segue são aprimoradas as habilidades e tomadas de decisões. Assim, é na senescência que os melhores frutos desta jornada deveriam ser colhidos. Os estados de perturbação da saúde fazem parte dos aprendizados e experiências. Seriam então as morbidades de caráter crônico as que oportunizariam melhor aprendizado ao homem e a humanidade. Esta lógica poderia induzir à expectativa de que a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e o diabetes melitus (DM) fossem doenças controladas. Pois, considerando o fato de serem crônicas e não transmissíveis com destacada prevalência no mundo, poderiam ser mais bem compreendidas, prevenidas e tratadas. No entanto, a realidade exposta por dados de estudos científicos não confirmam esta lógica simplista. O que existe é um controle muito baixo destas doenças e com resultados ainda menos satisfatórios em países de terceiro mundo1-3. Por algum tempo defendeu-se a hipótese de que este descontrole estava relacionado à falta de acesso aos medicamentos essenciais. A melhora da gestão da assistência farmacêutica e o advento do programa Aqui tem Farmácia Popular — trazendo consigo a gratuidade aos medicamentos para o manejo destes problemas — são exemplos de estratégias para ampliação do acesso. No entanto, o acesso, por si só, não garante o controle destes problemas de saúde. A adesão é fundamental, e não apenas a medicamentosa, mas também a adoção de mudanças de estilo de vida sejam estas relacionadas à alimentação ou à prática de exercícios físicos. Em estudo realizado no sul do Brasil, observou-se um problema que merece ser discutido em profundidade: a falta de informação documentada nos serviços de saúde sobre estes pacientes. Esta posição é decorrente do fato de que, mesmo os usuários estando cadastrados em listas de pacientes diabéticos e hipertensos pelos municípios investigados no Sul do Brasil, apenas 67,4% tiveram seus prontuários localizados e ainda apenas 43,1% possuíam informações, sobre o controle da doença, registrados nos últimos 12 meses4 . A falta de registros nos prontuários pode ser resultado da criação de documentos paralelos, já que é necessário o envio mensal, pela gestão da Atenção Básica, dos dados acerca de suas ações ao sistema nacional. Por vezes, a critério do profissional de saúde, esta informação também deixa de ser preenchida, em decorrência da manutenção de posturas individuais ou por características dos serviços de saúde5 . Outra causa possível por estar vinculada a problemas no arquivamento do prontuário, resultando na não localização6 . E, não se deve deixar de aventar a possibilidade de escassez de recursos para a realização de exames complementares, o que não justifica a falta de registros de parâmetros como a pressão arterial visto em menos da metade dos prontuários existentes4 . Também é importante destacar que, de acordo com os parâmetros definidos no estudo de Trauthman4 , apenas 34,4% dos indivíduos atingiram as metas terapêuticas determinadas. Isto demonstra o pequeno controle da HAS e DM, ainda que a maioria (84,4%) tenha considerado o tratamento efetivo, denotando que a percepção dos pacientes sobre a efetividade da terapia segue um caminho diferente. Esta percepção de controle pode estar associada a dois fatores. O primeiro deles relaciona-se ao fato de as doenças serem silenciosas. Portanto, as alterações da glicose e da pressão passam despercebidas pelo paciente. Outro motivo pode ser o entendimento do controle, pois valores superiores aos estabelecidos em diretrizes e consensos7,8 podem estar sendo adotados pelos entrevistados como meta terapêutica4 . A prevalência do controle clínico destas doenças está distante da condição ideal, sinalizando a necessidade de conduzir os pacientes ao uso racional dos medicamentos e a adoção de medidas não farmacológicas. Sendo cabível, a possibilidade de redefinições nos serviços, com especial atenção aos registros de dados dos pacientes nos prontuários e a intensificação das atividades que influenciam de modo positivo ao autocuidado e a adesão aos tratamentos.