Vivência (Mar 2017)
APRESENTAÇÃO/PRESENTATION
Abstract
Esse dossiê da Vivência: Revista de Antropologia trata de uma atividade corriqueira e presente no Brasil desde tempos imemoriais: a pesca. Ainda que seja vivenciada de norte a sul de nossos mais de seis mil quilômetros de costa marítima e de leste a oeste nos incalculáveis percursos de água doce, apesar de importantes esforços, a pesca não tem merecido da Antropologia feita no Brasil uma atenção equivalente a sua onipresença. Ainda que apresentada em muitas monografifi as clássicas, são poucos os trabalhos que enfocaram exclusivamente a pesca. Raymond Firth, em Malay Fishemen (1946), embora incluíndo a pesca nas sociedades camponesas, considerou como características estruturais de seu processo de trabalho que a rápida degradação de “produto”, o peixe, implicou no desenvolvimento de técnicas mais especializadas de conservação e sua entrada rápida no comercio mais amplo. Ou, como não recordar, por exemplo, que em sua obra seminal Argonautas do Pacífifi co Ocidental (1922), Malinowski, ao realizar etnografifi a entre trobiandeses insulares, perecebe que a pesca é reveladora de todo um conjunto de atividades e práticas rituais associadas a ela, confifi gurando-se como um dispositivo de fundamental importancia para o entendimento da vida social daquele povo. Assim, em apropriações mais recentes, com características de uma economia especializada, a pesca tem sido compreendida, muitas vezes, como um trabalho secundário complementar à atividade agrícola (BECK, 1979; ACHESON, 1981; DIEGUES, 1983) ou ao turismo (RIAL & GÓDIO, 2006).