Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ASSOCIAÇÃO DOS NÍVEIS DA P-SELECTINA SOLÚVEL COM POLIMORFISMOS DO GENE SELP E A OCORRÊNCIA DE CRISES VASO-OCLUSIVAS E OSTEONECROSE EM PACIENTES COM ANEMIA FALCIFORME
Abstract
Objetivos: Dentre as manifestações clínicas da anemia falciforme (AF), a crise vaso-oclusiva (CVO) é a principal causa de internações hospitalares. Além disso, episódios de infarto e necrose tecidual, podem ocasionar a osteonecrose, uma complicação crônica da AF na superfície articular óssea, degradando-a. Na fisiopatologia da AF, a P-selectina, glicoproteína codificada pelo gene SELP, participa do processo vaso-oclusivo, atuando na adesão de leucócitos, plaquetas e eritrócitos falcizados ao endotélio. Essas interações celulares resultam na quebra e liberação da forma solúvel da P-selectina (sP-selectina). Alguns polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) no gene SELP estão associados com a modulação dos níveis plasmáticos da sP-selectina e, portanto, podem influenciar na susceptibilidade a doenças. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi investigar a associação dos níveis plasmáticos da sP-selectina com polimorfismos no gene SELP e complicações clínicas de pacientes com AF acompanhados no hospital de hematologia da Fundação HEMOPE. Métodos: Foram selecionados 75 indivíduos com AF acima de 18 anos de ambos os sexos, que não estivessem em regime de hipertransfusão e/ou em uso de hidroxiuréia no momento da coleta. Para avaliar a dosagem de sP-selectina, subdividiu os pacientes em três grupos: 17 pacientes com AF durante o episódio de CVO; 20 pacientes com AF com osteonecrose e 38 com AF sem a ocorrência de eventos agudos clínicos por pelo menos 3 meses anteriores à coleta, que constituíram o grupo controle. Foi feita a genotipagem dos SNPs G1057A Ser290Asn (rs6131), G1980T Leu599Val (rs6133) e -1969G/A (rs1800805) por meio da técnica de PCR em tempo real. Resultados: Foi observado que os indivíduos do grupo CVO possuíam maiores níveis de sP-selectina (mediana: 155,7 ng/mL, intervalo: 115,9 ng/mL – 271,0 ng/mL), quando comparado ao grupo controle (mediana: 119,8 ng/mL, intervalo: 54,13 ng/mL – 167,3 ng/mL) (p < 0,0001). Com relação a osteonecrose (mediana: 98,09 ng/mL, intervalo: 65,90 ng/mL – 199,1 ng/mL), não foi observada diferença dos níveis de sP-selectina quando comparado ao grupo controle (p = 0,159). Por fim, ao analisar os níveis de sP-selectina de acordo com genótipos dos polimorfismos de SELP no grupo total, dentro dos grupos de cada complicação clínica, não foi observada diferença estatística para nenhuma variante. Discussão: A P-selectina é uma importante molécula para desencadeamento da vaso-oclusão, pois medeia o rolamento e adesão dos leucócitos e hemácias falcizadas à superfície do vaso, além de favorecer a formação de agregados entre as plaquetas e os neutrófilos. A importância da P-selectina para o processo vaso-oclusivo foi também demostrada pela eficácia do crizanlizumabe, um anticorpo monoclonal anti-P-selectina, na redução das taxas de CVO em pacientes com AF. Além disso, apesar de haver uma relação com as variantes do SELP com a dosagem da sP-selectina com os diferentes polimorfismos não foi encontrada na população estudada. Conclusão: Portanto, nossos resultados confirmam que a dosagem da sP-selectina em pacientes falcêmicos é um fator relevante para o desenvolvimento da CVO, sendo um possível critério para avaliação prognóstica e melhor acompanhamento dos pacientes.