Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)
AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE DO TESTE RÁPIDO COMO MÉTODO DE TRIAGEM PARA DIAGNÓSTICO DE SÍFILIS
Abstract
A incidência e a prevalência de sífilis vêm aumentando nos últimos anos no Brasil e estratégias para facilitar o diagnóstico na prática clínica incluem o uso de testes rápidos (TR). Esses testes são de fácil execução e sua leitura simples possibilita a investigação da sífilis em locais sem infraestrutura laboratorial. Entretanto, alguns estudos sugerem que a sensibilidade e a especificidade desses testes pode variar de acordo com o kit utilizado e em diferentes populações. O objetivo desse estudo foi avaliar a sensibilidade e a especificidade dos TR para sífilis, utilizando amostras de doadores de sangue. Foram selecionadas amostras soro de doadores com quimioluminescência (QML) positiva e demais marcadores negativos (falso-positivos, N=50); QML e FTA-ABS positivos com VDRL negativo (N=50); QML, FTA-ABS e VDRL positivos (N=50) e controles com todos os marcadores negativos (N=150). Todas as amostras foram submetidas ao TR (Sífilis Bio, Bioclin). A especificidade do teste foi calculada para amostras com todos os marcadores negativos, enquanto a sensibilidade foi calculada separadamente nos demais 3 grupos. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética institucional com isenção de TCLE. As amostras para o estudo foram procedentes de doadores com idade mediana de 37 anos (intervalo interquartil 28-47), sendo a maioria brancos (73%) e do sexo masculino (60%). Dentre doadores com todos os marcadores negativos, a especificidade do TR foi de 100% (IC 95% 98-100%). Entre doadores com QML, FTA-ABS e VDRL positivos, a sensibilidade do TR foi 92% (IC 95% 81-98); entre doadores com QML e FTA-ABS positivos e com VDRL negativo, a sensibilidade do TR foi 74% (IC 95% 60-85%); e entre doadores com QML positiva e demais marcadores negativos, 3 amostras foram positivas no TR (sensibilidade 6%, IC 95% 1-17%). O TR apresentou excelente especificidade geral e elevada sensibilidade (92%) entre doadores com QML, FTA-ABS e VDRL positivos, mas menor sensibilidade (74%) entre os com QML e FTA-ABS positivos e VDRL negativo. Esse resultado reforça a utilidade do TR para identificação de casos ativos de sífilis, porém limita a aplicabilidade do mesmo para o diagnóstico infecção remota. A identificação de outros fatores associados à menor sensibilidade do TR, tais como sexo e faixa etária, poderá auxiliar em decisões sobre sua aplicabilidade clínica. Agradecemos ao Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (MS) pela doação dos kits de TR.