Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

LINFOHISTIOCITOSE HEMOFAGOCÍTICA ASSOCIADA À SÍNDROME DE CHEDIAK-HIGASHI

  • AC Coletti,
  • SM Luporini,
  • ICO Hegg,
  • M Pizza,
  • P Bruniera,
  • FM Barbosa,
  • ML Borsato

Journal volume & issue
Vol. 43
p. S292

Abstract

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Introdução: A linfo-histiocitose hemofagocítica (HLH) é caracterizada por hiperativação imunológica e destruição de tecidos, causada pela ausência de regulação negativa dos macrófagos e linfócitos ativados, mais comum em crianças do nascimento aos 18 meses. Um gatilho comum desta condição é processo infeccioso, especialmente vírus Epstein-Barr, tanto em pacientes com predisposição genética como em casos esporádicos. Os genes associados ao HLH codificam componentes para citotoxicidade dependente de perforina, em geral relacionados à consanguinidade. A síndrome de Chediak-Higashi (SCH) é uma doença autossômica recessiva rara, causada pela mutação no gene CHS1/LYST (1q42.1-2), cuja proteína expressa é fundamental para regular o início da produção dos grânulos contendo perforina e granzimas em células da imunidade celular mediada por grânulos (linfócitos T citotóxicos e células NK). O quadro clínico é sugerido pela presença de albinismo óculo-cutâneo, cabelos cinza-prateados, anormalidades neurológicas progressivas, defeitos leves de coagulação, infecções recorrentes e um alto risco de desenvolver HLH. Relato de caso: Sexo feminino, 11 anos, filha única de pais consanguíneos (primos de 3°grau), procedente da zona rural na Bahia, antecedente de síndrome de Chediak-Higashi (diagnosticada em exames de sangue periférico e medula óssea de 2013). Seguia ambulatório de hematologia cada 6 meses, com avaliações clínico-laboratoriais. Em 2020, procurou PS com queixa de dores em membros inferiores há 15 dias, acompanhada de dor abdominal, associada a vômitos, constipação, inapetência, perda de peso não mensurado e febre não aferida, em uso de analgésico. Refere infecção urinária há 30 dias. Nega quadros infecciosos e uso de antibióticos prévios. Ao exame físico: palidez cutânea e febril (38,4°C). Cabelos acinzentados, olhos claros e pele rendilhada. Abdome globoso, distendido, hepatoesplenomegalia (baço 6 cm e fígado 3 cm, do rebordo costal). Exames laboratoriais: Mielograma: presença de grânulações citoplasmáticas nos leucócitos, sugestivo de síndrome de Chediak-Higashi. Pancitopenia (Hb 5,0 Leuco 1.800 Plaq 24.000), ferritina 1307, triglicerídeos 443, fibrinogênio 40, preenchendo mais de 5 critérios de HLH. Iniciado protocolo com dexametasona e etoposídeo. Recidivou duas vezes, reiniciando o protocolo HLH 2004. Atualmente na fase de manutenção, aguardando doador idêntico de medula óssea, para TMO. Discussão: A SCH caracterizada por infecções bacterianas recorrentes, devido seu defeito nos grânulos dos neutrófilos e linfócitos T citotóxicos, prejudicando a função bactericida e citotóxica. Os locais mais frequentes de infecção são pele, trato respiratório e membranas mucosas. Nesta condição acabam entrando na fase acelerada da doença, caracterizada por doença HLH com infiltração linfo-histiocítica maciça em fígado, baço e medula óssea com grande produção de citoquinas inflamatórias que causam disfunção de múltiplos órgãos. O diagnóstico de SCH é sugerido por grânulos citoplasmáticos gigantes patognomônicos em leucócitos no sangue periférico e medula óssea e confirmado pela identificação da mutação gênica. O tratamento consiste na supressão da hiperinflamação (com imunossupressores), eliminação de células imunes ativadas (corticosteróides e etoposide), eliminação do “gatilho”e terapia de suporte para neutropenia, coagulopatia, infecções. Com a remissão do quadro acelerado, necessita de transplante de células tronco hematopoéticas, para correção do defeito imunológico herdado. Conclusão: A HLH ocorre em 80% dos pacientes com SCH, com altas taxas de mortalidade. Assim, a investigação dos critérios clínicos na suspeita de HLH são de suma importância para o diagnóstico e tratamento precoce e, consequentemente, melhor a sobrevida.