Revista Portuguesa de Cardiologia (Jan 2018)
Adoção da estratégia invasiva precoce no enfarte agudo do miocárdio sem supra desnivelamento de ST: análise dos resultados do Registo Nacional de Síndromas Coronárias Agudas
Abstract
Resumo: Introdução: Nos doentes internados com enfarte agudo do miocárdio sem supradesnivelamento de ST (EAM‐NST), o momento mais apropriado para a realização de coronariografia não está completamente definido, embora esteja estabelecido que, nos doentes de alto risco, se deverá realizar nas primeiras 24 horas. O objetivo deste trabalho é descrever a evolução temporal da utilização de uma estratégia invasiva. Adicionalmente, pretende‐se discutir se haverá benefício em estabelecer sistema organizacional similar àquele que já existe para o enfarte com supra de ST. Métodos: Análise retrospetiva dos doentes admitidos com EAM‐NST, incluídos no Registo Nacional de Síndromas Coronárias Agudas, entre 2002‐2015. Avaliou‐se a percentagem de doentes submetidos a coronariografia e o tempo desde a admissão até à coronariografia, de acordo com o ano da admissão, género e idade, assim como a evolução da mortalidade e do tempo de internamento. Resultados: A análise incluiu 18 639 doentes. Entre 2002‐2015, observou‐se um significativo aumento percentual das coronariografias (52,0 versus 83,6%) e angioplastias (23,3 versus 53,0%), assim como nas coronariografias realizadas nas primeiras 24 horas (21,0 versus 48,1%). A mortalidade intra‐hospitalar diminuiu ao longo do período de análise, particularmente nos doentes com mais de 74 anos (9,5 para 3,7%) e no género masculino. Conclusões: A adoção progressiva da estratégia invasiva, em particular da estratégia invasiva precoce, foi acompanhada temporalmente por uma diminuição da mortalidade. Como metade dos doentes de alto risco continua a realizar a coronariografia tardiamente, considera‐se que o EAM‐NST poderia beneficiar com um sistema organizacional como a iniciativa Stent for Life. Abstract: Introduction: In patients with non‐ST‐elevation myocardial infarction (NSTEMI), the best timing for coronary angiography is not definitely established, although it is recognized that in high‐risk patients it should be performed within the first 24 hours. The aim of this work was to describe the evolution over time of the use of an invasive strategy in the treatment of NSTEMI and in‐hospital mortality. Methods: We performed a retrospective analysis of patients admitted with NSTEMI included in the Portuguese Registry on Acute Coronary Syndromes (ProACS) between 2002 and 2015. The annual proportion of patients undergoing coronary angiography and the time from admission to coronary angiography were assessed, as were changes in mortality and length of stay. Results: A total of 18 639 patients with NSTEMI were included in the ProACS registry between 2002 and 2015. Over this period there were significant increases in the proportion of patients undergoing coronary angiography (from 52.0 to 83.6%) and angioplasty (from 23.3 to 53.0%), as well as in the proportion of patients who underwent coronary angiography within 24 hours of admission (from 21.0 to 48.1%). In‐hospital mortality decreased in those aged over 74 years (from 9.5 to 3.7%) and in males. Conclusions: The progressive adoption of an invasive strategy, particularly an early one (within 24 hours), was accompanied by a reduction in in‐hospital mortality. Since coronary angiography is performed late (> 24 hours) in half of NSTEMI patients, these patients could benefit from initiatives similar to Stent for Life. Palavras‐chave: Enfarte agudo do miocárdio sem supra de ST, Evolução temporal no tratamento, Estratégia invasiva precoce, Mortalidade intra‐hospitalar, Stent for Life, Keywords: Non‐ST‐elevation myocardial infarction, Temporal trends, Early invasive strategy, In‐hospital mortality, Stent for Life