Cadernos de Saúde Pública (Aug 2021)

Perspectivas neurocientíficas para uma teoria do trauma: revisão crítica dos modelos integrativos entre a biologia e a cultura

  • Ramon Reis,
  • Francisco Ortega

DOI
https://doi.org/10.1590/0102-311x00352820
Journal volume & issue
Vol. 37, no. 8

Abstract

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Durante o último quarto do século XX, a psicopatologia codificou um arco diversificado de fenômenos sociais sob a rubrica do traumatismo, notabilizando o estudo do trauma psicológico como área autônoma e progressivamente informada pelas pesquisas culturais e neurobiológicas. Nesse cenário, presenciamos a emergência do paradigma biocultural, perspectiva epistemológica que procura elucidar as trajetórias interativas pelas quais cultura e biologia consolidam, entre si, os seus efeitos recíprocos. Este artigo abordará as interseções entre o campo dos psicotraumatismo e as neurociências, tomando, como eixos de análise, a expansão da categoria do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), os pressupostos epistemológicos das pesquisas neurocomportamentais do estresse e do medo, e as limitações da tese da bidirecionalidade, preconizada pelas neurodisciplinas culturais contemporâneas. A elaboração de abordagens definitivamente integrativas pode auxiliar no desenvolvimento de modelos compreensivos capazes de conceber os saberes e as práticas ao nível da experiência humana, evitando interpretações reducionistas que submetem vivências culturais e subjetivas complexas ora aos imperativos do cérebro, ora aos códigos semiológicos do raciocínio patogênico.

Keywords