Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

CÓDIGO HEMORRÁGICO COMO FERRAMENTA DE PADRONIZAÇÃO DE PRÁTICAS ASSISTÊNCIAS EFETIVAS: ANÁLISE DESCRITIVA DE DOIS ANOS DE EXPERIÊNCIA

  • EAF Oliveira,
  • SQ Silveira,
  • JJ Bartocci,
  • TG Romano,
  • MCM Campos,
  • FCV Perini,
  • FO Braga,
  • LFF Dalmazzo,
  • SD Vieira

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S750 – S751

Abstract

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Introdução: O Patient Blood Management (PBM) é uma abordagem multidisciplinar, focada no paciente, que objetiva, entre outras coisas, diminuir perdas sanguíneas e promover o uso racional da transfusão, evitando assim complicações como infecção, aumento do tempo de internação e mortalidade. Gerir de forma racional as transfusões em um cenário de hemorragia aguda é desafiador e necessita de envolvimento multidisciplinar. Frente a este cenário, foi estabelecido um protocolo gerenciado (Código Hemorrágico) para garantir padronização e celeridade no atendimento. Objetivo: Avaliar o impacto da instalação do Código Hemorrágico em pacientes com hemorragia aguda através da análise da mediana mensal de transfusões realizadas, além da mediana do consumo mensal de ácido tranexâmico, antes e após a aplicação deste protocolo. Materiais e métodos: Análise retrospectiva das transfusões comparando dados de nove meses antes e nove meses depois da instalação de um protocolo gerenciado de transfusão em casos de hemorragia aguda (2021 versus 2022). O protocolo “Código Hemorrágico” é iniciado diante de um quadro de sangramento agudo significativo onde todos os setores potencialmente envolvidos no tratamento são avisados: centro cirúrgico, anestesiologia, hemodinâmica e banco de sangue. É colhido um pacote de exames laboratoriais, incluindo tromboelastometria e disponibilizados concentrados de hemácias em extrema urgência. Os dados são demonstrados com a mediana devido distribuição não normal e a comparação estatística foi feita por teste t não paramétrico (Man-Whitney) com erro tipo alpha significante abaixo de 5%. Resultados: Em nossa amostra houve diferença estatisticamente significante na mediana do número mensal de transfusões, com 396 em 2021 vs. 356 em 2022 (p = 0.04). Houve aumento na mediana mensal de frascos ácido tranexâmico consumidos, com 525 frascos em 2021 vs. 783 frascos em 2022 (p = 0.006). A relação entre o número total de frascos de ácido tranexâmico administrados e o número total de transfusões foi de 1,24 frasco por transfusão em 2021 para 2,56 em 2022. Discussão: Espera-se que a instalação do protocolo resulte em: a) Menor número mensal de transfusões refletindo controle mais rápido da hemorragia e opção pela estratégia transfusional guiada por tromboleastometria; b) Aumento do consumo de ácido tranexâmico refletindo o controle da hiperfibrinólise. Ambas as expectativas foram atingidas em nossa instituição após a instalação do protocolo. Além disso, houve um aumento substancial no consumo de transamin conforme resultados acima, denotando utilização precoce conforme preconiza a literatura. Destacamos, por outro lado, que o perfil dos pacientes nesses dois períodos analisados foi bastante diferente, devido, em especial a pandemia de COVID-19, com maior número de casos graves em 2021, podendo constituir importante viés em nossa análise. Conclusão: A implementação do Código Hemorrágico em pacientes com hemorragia aguda significativa se relacionou a redução no número total de transfusões e aumento substancial na utilização de ácido tranexâmico, o que reforça a ideia de mudança cultural, com tendência a um manejo de sangramento racional e guiado e indo ao encontro do início da implementação do programa PBM.