Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

AVALIAÇÃO DA COMBINAÇÃO DE PARÂMETROS CLÍNICOS ASSOCIADOS A DIFERENTES MANIFESTAÇÕES TROMBÓTICAS DA SAF PRIMÁRIA

  • GM Santos,
  • S Rodriguez-Rodriguez,
  • E Okazaki,
  • M Collela,
  • B Stefanello,
  • P Prestes,
  • GG Yamaguti-Hayakawa,
  • C Rothschild,
  • J Annichino-Bizzacchi,
  • V Rocha,
  • EV De-Paula,
  • P Villaça,
  • FA Orsi

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S495 – S496

Abstract

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Objetivos: As complicações trombóticas associadas a SAF são heterogêneas, podendo acometer desde a microcirculação até grandes vasos. O objetivo é a identificação de padrões demográficos e clínicos associados a diferentes manifestações trombóticas da SAF primária. Métodos: Coorte de pacientes com SAF primária trombótica seguidos nos Serviços de Hematologia da USP e no Hemocentro da UNICAMP. Utilizamos o teste exato de Fisher e teste de Mann-Whitney para comparação entre grupos de interesse e análises de clustering para identificação de combinação de fatores que identificam subpopulações mais homogêneas da doença. Resultados: Dos 263 pacientes com SAF primária, 161 (61%) eram mulheres e 17,5% triplo positivos, 44% com obesidade, 44% hipertensão, 15% diabetes, 45% dislipidemia e 13% alguma trombofilia hereditária. A mediana de idade na primeira trombose foi de 32 anos (14‒77). 75% foram venosas e os principais sítios foram membros inferiores (35,6%) e AVC (24,1%). 44% dos pacientes apresentaram recorrência e 15% tiveram mais de 3 episódios trombóticos. A maioria das recidivas ocorreu em sítio venoso (74%). A mediana de tempo para recorrência foi de 36 meses (12‒103 meses) e 30% dos pacientes que recorreram estavam em tratamento anticoagulante. Pacientes com a primeira trombose arterial tinham maior prevalência de hipertensão (61,2% vs. 38,8%; p = 0,003) e dislipidemia (59,4% vs. 40,6%; p = 0.013) enquanto os pacientes com eventos venosos tinham maior prevalência de obesidade (49% obesos nos pacientes com trombose venosa vs. 34% nos arteriais; p = 0,026) e maiores níveis de proteína C reativa (venoso 2,66 [0,5‒8,3] vs. 0,99 arterial). Na análise de clustering, a coorte pode ser dividida em dois agrupamentos, sendo o primeiro constituído predominantemente por mulheres (74%) jovens (mediana 26, IQR 22‒32 anos), sem comorbidades de risco cardiovascular (67%), sem obesidade (68%), com tripla positividade para aPL (100%), menores níveis de complemento sérico e plaquetas e maior prevalência de tromboembolismo venoso tanto no primeiro quanto nos eventos subsequentes (74% e 88%, respectivamente). O segundo agrupamento teve distribuição equilibrada entre sexos, mediana de idade de 36 anos (IQR 24‒48), 50% com obesidade ou comorbidades de risco cardiovascular, rara tripla positividade (2%) e maior prevalência de eventos arteriais (29% no primeiro e 26% na recidiva) e venosos em sítios incomuns (primeiro 21%; recidiva 21%). Discussão/conclusão: Nessa coorte multicêntrica, observamos que os eventos arteriais na SAF primária estão associados a doenças cardiovasculares e os venosos à obesidade. Além disso, a partir da análise de agrupamento, distinguimos duas subpopulações de pacientes que diferem entre si em aspectos demográficos, clínicos e laboratoriais. Na primeira, há maior prevalência de eventos arteriais ou em sítios incomuns, distribuição equilibrada de sexo e diagnóstico antes da quinta década de vida. Na segunda, há predominância de tromboembolismo venoso, em mulheres muito jovens (abaixo de 30 anos de idade), sem comorbidades e com sinais de maior atividade imune da doença (tripla positividade). Os achados reforçam a heterogeneidade da doença, sugerindo a influência de diferentes mecanismos patológicos. Além disso, a identificação de distintos padrões de acometimento da SAF poderá otimizar o tratamento da doença. Essa coorte está em construção e a inclusão de mais pacientes irá distinguir com maior precisão os diferentes padrões de acometimento clínico na SAF primária.