Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
TRATAMENTO DE LINFOMA DE HODGKIN CLÁSSICO RECÉM-DIAGNOSTICADO COM DOXORRUBICINA, ETOPOSÍDEO, VIMBLASTINA E DACARBAZINA NO CONTEXTO DE DESABASTECIMENTO DE BLEOMICINA: FOLLOW-UP DE 4 ANOS DO REGIME AEVD
Abstract
Introdução: O desabastecimento de bleomicina no Brasil observado a partir de 2018 limitou o tratamento de Linfoma de Hodgkin clássico (LHc) com os principais regimes de tratamento em primeira linha, como ABVD e BEACOPP. Isto impôs decisões difíceis de tratamento, visto que enquanto no âmbito privado observou-se uso preferencial de brentuximabe-vedotina em substituição à bleomicina (A+AVD) ou importação independente de bleomicina, em diversas instituições públicas estas opções não estavam acessíveis. Objetivo: Avaliação com follow-up estendido da combinação AEVD (doxorrubicina; etoposídeo, em substituição à bleomicina, na dose de 100mg/m2; vinblastina e dacarbazina) para LHc em primeira linha, nos dias 1 e 15 de ciclos de 28 dias, por até 6 ciclos. Métodos: Estudo clínico aberto não-randomizado para avaliar o regime AEVD como tratamento de primeira linha em pacientes com diagnóstico recente de LH no Hospital Municipal São José em Joinville, Brasil. Resultados: Vinte e cinco pacientes com diagnóstico de LHc foram incluídos. A mediana de idade ao diagnóstico foi de 27 anos (intervalo: 18-66), 56% eram homens e a maioria dos pacientes tinham doença com estágio II (60%, n = 15), sintomas B (56%, n = 14) e DHL elevado (52%, n = 13). Para estágios III-IV (n = 5), 3 pacientes apresentaram IPS alto risco (escore > 2; 60%). Para doença localizada (n = 20), alto risco conforme GHSG foi observado em 16 pacientes (n = 80%). Todos os pacientes passaram por 3 a 6 ciclos de quimioterapia e não se observou evento adverso com necessidade de internação hospitalar, interrupção ou descontinuação de tratamento. A taxa de resposta global foi de 96%, com 1 paciente (4%) refratário apresentando progressão da doença após 5 ciclos da combinação, 4 pacientes (16%) com resposta metabólica parcial e 20 pacientes com resposta metabólica completa (80%). Com mediana de seguimento de 46 meses, foram observadas 5 recidivas (21%), com mediana de 26 meses (intervalo: 9-38). Três pacientes necessitaram de terapia em terceira linha, e 2 em quarta e quinta linha. Brentuximabe-vedotina foi utilizado por 1 paciente em terceira e um em quinta linha, e nivolumabe por um paciente em quinta linha. Dois pacientes apresentaram perda de seguimento após mudança de estado. Um óbito foi observado, 26 meses após o início do tratamento com AEVD, no contexto de transplante autólogo de células hematopoiéticas em terceira linha. A probabilidade de sobrevida livre de progressão em 4 anos foi de 76% (intervalo de confiança, IC 95%: 60%-95%); e a probabilidade de sobrevida global em 4 anos foi de 96% (IC 95%: 88%-100%). No seguimento atual, não se observaram efeitos tóxicos tardios ou outras alterações clínicas de interesse com a combinação. Conclusões: A utilização de etoposídeo (AEVD) como substituição à bleomicina em decorrência de desabastecimento foi segura e factível, com eficácia comparável ao regime padrão (ABVD) neste contexto. Espera-se que o avanço do tratamento de LHc, atualmente impactado por estudos com a incorporação de terapias-alvo em primeira linha, aumente a sobrevida destes pacientes. Na mesma medida, espera-se que a falta de acesso a estas combinações, ou eventos de desabastecimento como o aqui reportado, não comprometam abordagens com intuito curativo nesta população.