Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

ESTATINAS PARA DOENÇA FALCIFORME: REVISÃO SISTEMÁTICA

  • MC Caruso,
  • R Riera,
  • IAM Palma,
  • RL Pacheco,
  • COC Latorraca,
  • LFS Dias

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S88

Abstract

Read online

Objetivo: Avaliar a eficácia e segurança de estatinas para pessoas com doença falciforme (DF). Métodos: Protocolo foi registrado na PROSPERO, seguindo o Cochrane Handbook e o relatório seguiu PRISMA. Incluíram-se ECRs com participantes de qualquer idade com diagnóstico de DF. Desfechos: crises de dor agudas, mortalidade relacionada à DF, complicações graves, transfusão sanguínea, eventos adversos e qualidade de vida. Foram buscados estudos em CENTRAL, Embase, MEDLINE, ClinicalTrials.gov e WHO International Clinical Trials Registry Platform, além de busca manual. Foram encontrados 261 artigos. Após excluir duplicatas, foram analisados títulos e resumos (246 excluídos) e textos completos (11 excluídos), restando 2 ECRs: um publicado como comentário e outro concluído sem desfechos disponíveis. Devido à ausência de dados, não foi possível realizar meta-análises. Resultados: O estudo Kenneth 2019 incluiu 13 participantes com atorvastatina 40 mg/dia por 6 semanas versus placebo. O estudo Abdelhalim 2021 incluiu 350 participantes com sinvastatina 20-40 mg/dia por 8-10 meses, associada ao tratamento tradicional versus placebo. Desfechos de Kenneth 2019: disfunção endotelial, relação albumina-creatinina, TFG, níveis de ET-1 e p-selectina solúvel, todos com p > 0,05. O risco de viés foi avaliado como incerto para várias categorias e baixo para relato seletivo dos desfechos. Não foi possível avaliar a certeza da evidência pelo GRADE devido à falta de desfechos de interesse e pequeno tamanho amostral, sugerindo evidência de certeza muito baixa. Discussão: A anemia falciforme apresenta alta prevalência e impacto psicossocial significativo devido ao seu caráter crônico, com agudizações recorrentes, episódios de dor frequentes e potencial risco de morte. Apesar disso, as opções de manejo atuais são limitadas. A revisão avaliou o uso de estatinas, amplamente utilizadas em risco cardiovascular, na DF. Na literatura, alguns estudos pré-clínicos demonstraram desfechos interessantes relacionados a adesão endotelial e função renal com o uso de estatinas na DF, os quais poderiam diminuir as crises de oclusão de vasos que levam a dor e danos a órgãos. Contudo, os resultados dessa revisão mostram que não houve diferença significativa em nenhum dos parâmetros analisados. A revisão destaca a lacuna na pesquisa clínica, sublinhando a necessidade de estudos mais robustos, randomizados e controlados por placebo para uma compreensão mais abrangente e confiável dos efeitos das estatinas na anemia falciforme, pois grande parte dos estudos analisados foram excluídos por serem de braço único ou com controle incorreto. Ademais, a ausência de investigações que avaliem parâmetros clínicos, em detrimento dos laboratoriais, impede decisões clínicas baseadas em evidências, sugerindo uma subutilização de recursos científicos. A pesquisa deve focar em desfechos que efetivamente impactem a vida dos pacientes. Além disso, ao trazer à tona a falta de investigações sobre qualidade de vida de adultos afetados pela DF, o estudo proporciona nova perspectiva sobre a necessidade de ampliação da atenção científica para tal população. Conclusão: Apesar de um ECR sobre o uso de estatinas na DF não revelar diferenças significativas nos parâmetros avaliados, a escassez de estudos disponíveis e a ausência de desfechos de interesse limitam a certeza das evidências. Para orientar a prática clínica, são necessárias futuras pesquisas clínicas rigorosas, explorando desfechos além dos laboratoriais.