Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
HORA DOURADA NA NEUTROPENIA FEBRIL ‒ EXPERIÊNCIA DO HC-UFMG
Abstract
Introdução: A despeito de todos os avanços no tratamento do câncer infanto-juvenil, muitos óbitos ainda ocorrem por causas evitáveis. O tempo prolongado (> 60 minutos) entre o aparecimento da febre e o início do Antibiótico (TTA) no paciente neutropênico está associado a um pior desfecho. O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) faz parte da Aliança Global do Hospital St Jude. Como parte dos processos de melhoria promovidos pela aliança, o HC-UFMG implementou o projeto Hora Dourada que tem como objetivo principal a redução do TTA nos pacientes em tratamento oncológico admitidos no Pronto-Atendimento (PA) com febre. Métodos: O HC-UFMG foi incluído na 2ª colaborativa, MAS (Mexico em Alianza com St. Jude) ‒ Hora Dorada promovida pela Aliança Global do St Jude. Mais de 110 hospitais da América Central e do Sul participaram do projeto. De janeiro de 2022 a maio de 2023, foram coletados dados sobre todos os pacientes pediátricos em tratamento oncológico que foram admitidos no PA com febre. A partir das informações encontradas, foram então delineadas estratégias para melhoria do TTA. O projeto contou com a assessoria de uma coach, designada pela aliança, que reunia periodicamente com a equipe. A equipe de trabalho foi composta por médicos hematologistas, pediatras, residentes e alunos de graduação, além de profissionais da enfermagem e farmácia. Resultados: Foram atendidos 78 episódios de neutropenia febril em pacientes pediátricos. O principal diagnostico foi LLA, observado em 50 eventos febris. De janeiro e agosto de 2022 a mediana de tempo encontrada na avaliação do TTA foi de 127 minutos. Nesse período foram identificadas várias questões que poderiam interferir no atraso do início do antibiótico: desconhecimento da equipe sobre o tema (desde os funcionários da recepção, triagem, médicos e enfermeiros); trocas constantes na equipe; ausência de uma forma de identificação destes pacientes na portaria; dificuldade para punção do acesso venoso; dispensação do medicamento pela farmácia após a prescrição, entre outros. Como medidas de melhoria foi realizada uma ação de conscientização sobre a neutropenia febril, em 13 de setembro, dia mundial da sepse. Foram criados fluxos de trabalho para orientar cada etapa da passagem do paciente pelo PA, desde a recepção na portaria, triagem, avaliação médica e administração do antibiótico. Foi elaborado um cartão de identificação do paciente em tratamento oncológico. Após a implementação destas medidas, observou-se uma redução da mediana do TTA para 51 minutos, entre setembro/22 e abril/23. Outros resultados observados: 100% de adesão ao protocolo de neutropenia com relação ao antibiótico prescrito e à coleta de hemocultura. Neste período não ocorreu nenhum óbito, em 6 eventos foi identificada sepse grave e em 4 eventos o paciente precisou ser transferido ao UTI. Discussão: As dificuldades observadas que culminavam com o atraso da administração da antibioticoterapia foram semelhantes ao relatado na literatura, conforme descrito por Koenig et al. No presente estudo, provavelmente pelo pequeno número de eventos registrados, não foi observado impacto da redução do TTA nos desfechos desfavoráveis (sepse grave, transferência à UTI e/ou óbitos). Conclusão: As medidas de melhoria à assistência do paciente oncológico são importantes para redução das causas evitáveis de óbitos. São medidas geralmente de baixo custo, mas com potencial de grande impacto. É essencial que as mudanças implementadas sejam reavaliadas periodicamente para a sustentabilidade dos resultados.