Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

ANTI-LW: MUITO BARULHO POR NADA?

  • CA Mesquita,
  • TA Barros,
  • DV Vasconcellos,
  • M Conrado,
  • AMC Alves,
  • CL Dinardo

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S623 – S624

Abstract

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Objetivo: Relatar caso de paciente com anti-LW, enfatizando a importância da técnica da Monocamada de Monócitos (MMA) na tomada de decisões. Materiais e métodos: Foram utilizados cartões de gel Bio-Rad® para testes imuno-hematológicos e técnica do MMA para avaliação hemolítica do anticorpo. Resultados: Paciente feminina, 64 anos, portadora de múltiplas comorbidades: SIDA, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e doença renal crônica em hemodiálise. História pregressa G4 P2 A2 e transfusão de um concentrado de hemácias há 10 anos. Internação atual por anemia sintomática, tendo sido solicitada transfusão de concentrado de hemácias. Os exames pré-transfusionais mostraram: tipagem sanguínea grupo “A” R1R1; Pesquisa de Anticorpos Irregulares reagente com células de triagem; Teste direto da antiglobulina reagente (IgG 3+). Painel de identificação de anticorpos com padrão de reatividade somente em células RhD+ e autocontrole reagente, compatível com presença de anti-D. Ao painel com hemácias papainizadas, reatividade com todas as 11 células testadas. Uma vez que a formação de autoanti-D não é esperada e pelo padrão de reatividade do teste enzimático, foi aventada a hipótese de autoanticorpo anti-LW. Hipótese ratificada pela prova de compatibilidade do soro da paciente com hemácias de cordão umbilical RhD negativas com resultado reagente e pelo desaparecimento da reatividade após tratamento das hemácias RhD+ com DTT. Nos deparamos, então, com cenário desafiador: realizar transfusões de hemácias incompatíveis, sendo o anti-LW não hemolítico, respeitando o fenótipo R1R1 da paciente ou utilizar hemácias compatíveis RhD negativas com alto risco de aloimunização principalmente contra o antígeno c (RH4). Para a acertada tomada de decisão, foi realizada a técnica MMA, com ausência de fagocitose dessas pelos macrófagos, sugerindo não haver significado clínico dos anticorpos da paciente. Após sete transfusões sorologicamente incompatíveis com hemácias fenótipo R1R1, a paciente seguiu com bom aproveitamento transfusional, sem apresentar reações transfusionais imediatas ou formação de novos aloanticorpos. Discussão: Os antígenos de Landsteiner-Wiener (LW) são antígenos de alta frequência descritos na década de 1940, e por dependerem da interação com proteínas da família RH para sua expressão, somente duas décadas depois foram identificados como um sistema diferente. Embora raramente identificado e, em geral, sem significado clínico, o anti-LW pode mimetizar sorologicamente o anti-D, por conta da sua maior expressão nas células D+. No entanto, a diferenciação é possível pois o comportamento dos antígenos difere nos tratamentos enzimáticos e na expressão nas hemácias de cordão. No caso descrito, todos os testes realizados confirmaram a hipótese diagnóstica da presença do autoanticorpo anti-LW em indivíduo RhD positivo e o MMA reforçou o provável padrão não-hemolítico do anticorpo, o que foi confirmado após os atendimentos transfusionais mesmo com prova cruzada incompatível. Conclusão: O caso ilustra a importância da utilização das diversas ferramentas disponíveis para o diagnóstico imunohematológico, do conhecimento das peculiaridades e do comportamento clínico dos anticorpos eritrocitários identificados e da utilização do MMA como suporte à decisão de seguir com transfusões que apresentem incompatibilidade in vitro por ser excelente teste preditor de hemólise clinicamente significativa in vivo.