Revista Portuguesa de Cardiologia (Jun 2017)

Variabilidade na interpretação do eletrocardiograma do atleta: mais uma limitação na avaliação pré‐competitiva

  • Hélder Dores,
  • José Ferreira Santos,
  • Paulo Dinis,
  • Francisco Moscoso Costa,
  • Lígia Mendes,
  • José Monge,
  • António Freitas,
  • Pedro de Araújo Gonçalves,
  • Nuno Cardim,
  • Miguel Mendes

Journal volume & issue
Vol. 36, no. 6
pp. 443 – 449

Abstract

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Resumo: Introdução: A interpretação do eletrocardiograma (ECG) do atleta permanece controversa, com ausência de estandardização e dificuldade na aplicação de critérios específicos na sua interpretação. O objetivo deste trabalho é avaliar a variabilidade na interpretação do ECG de atletas. Metodologia: Vinte ECG de atletas foram avaliados por cardiologistas e internos de cardiologia, 11 normais ou apenas com alterações fisiológicas e nove patológicos. Cada ECG foi classificado pelos inquiridos em normal/com alterações fisiológicas ou patológico, usando ou não critérios específicos na sua interpretação. Resultados: Foram incluídas as respostas de 58 médicos, 42 (72,4%) cardiologistas. Dezasseis (27,6%) afirmaram avaliar frequentemente atletas e 32 (55,2%) não usar critérios específicos na interpretação do ECG, sendo os mais usados os critérios de Seattle (n = 13). Em média, cada médico interpretou corretamente 15 ± 2 ECG, correspondendo a 74% dos traçados (variação: 45‐100%). A interpretação dos ECG foi correta em 68% (variação: 22‐100%) dos patológicos e em 79% (variação: 55‐100%) dos normais/com alterações fisiológicas. Não houve diferença significativa na interpretação entre cardiologistas e internos (74 ± 10% versus 75 ± 10%; p = 0,724), nem entre os que avaliam frequentemente ou não atletas (77 ± 12% versus 73 ± 9%; p = 0,286), verificando‐se uma tendência para interpretação mais correta com critérios específicos (77 ± 10% versus 72 ± 10%; p = 0,092). A reprodutibilidade do estudo foi excelente (intraclass correlation coefficient = 0,972; p < 0,001). Conclusão: Na amostra estudada, cerca de um quarto dos ECG foi incorretamente avaliados, havendo uma elevada variabilidade na sua interpretação. O uso de critérios específicos na interpretação do ECG do atleta pode melhorar a acuidade deste exame no screening de atletas, mas são ainda subutilizados. Abstract: Introduction: Assessment of the electrocardiogram (ECG) in athletes remains controversial, with lack of standardization and difficulty in applying specific criteria in its interpretation. The purpose of this study was to assess variability in the interpretation of the ECG in athletes. Methods: Twenty ECGs of competitive athletes were assessed by cardiologists and cardiology residents, 11 of them normal or with isolated physiological changes and nine pathological. Each ECG was classified as normal/physiological or pathological, with or without the use of specific interpretation criteria. Results: The study presents responses from 58 physicians, 42 (72.4%) of them cardiologists. Sixteen (27.6%) physicians reported that they regularly assessed athletes and 32 (55.2%) did not use specific ECG interpretation criteria, of which the Seattle criteria were the most commonly used (n=13). Each physician interpreted 15±2 ECGs correctly, corresponding to 74% of the total number of ECGs (variation: 45%‐100%). Interpretation of pathological ECGs was correct in 68% (variation: 22%‐100%) and of normal/physiological in 79% (variation: 55%‐100%). There was no significant difference in interpretation between cardiologists and residents (74±10% vs. 75±10%; p=0.724) or between those who regularly assessed athletes and those who did not (77±12% vs. 73±9%; p=0.286), but there was a trend for a higher rate of correct interpretation using specific criteria (77±10% vs. 72±10%; p=0.092). The reproducibility of the study was excellent (intraclass correlation coefficient=0.972; p<0.001). Conclusions: A quarter of the ECGs were not correctly assessed and variability in interpretation was high. The use of specific criteria can improve the accuracy of interpretation of athletes’ ECGs, which is an important part of pre‐competitive screening, but one that is underused. Palavras‐chave: Eletrocardiograma, Interpretação, Variabilidade, Atletas, Keywords: Electrocardiogram, Interpretation, Variability, Athletes