Revista de Estudos da Linguagem (Mar 2018)

Distinção de ponto de articulação no Português de Belo Horizonte: exemplos em plosivas e fricativas

  • Rui Rothe-Neves,
  • Fabiana Andrade Penido

DOI
https://doi.org/10.17851/2237-2083.26.2.793-842
Journal volume & issue
Vol. 26, no. 2
pp. 793 – 842

Abstract

Read online

Resumo: Este artigo trata das pistas auditivas utilizadas para a distinção de ponto de articulação no português brasileiro (PB). Na primeira parte, descrevemos as propriedades acústicas das fricativas [ʃ] e [s] e das plosivas [b] e [d] seguidas da vogal [a]. Foram analisadas amostras de fala de sete falantes nativos de PB registrados em Belo Horizonte. Foram obtidos valores de duração semelhantes para [ʃ] e [s], bem como para a fase de soltura da oclusão oral nas plosivas. A fase de pré-sonorização foi maior para [b] do que para [d]. Picos de amplitude mais proeminentes e concentração de energia em regiões de maior frequência foram obtidos em [s] quando comparado a [ʃ]. Registramos picos de energia em regiões de maior frequência para [d] em comparação com [b]. Finalmente, F2 foi maior no início da transição de formantes após [ʃ] e [d] quando comparado a [s] e [b]. Na segunda parte, oito falantes nativos de Belo Horizonte realizaram uma tarefa de classificação. Tanto a transição de F2 e F3 quanto o centro de gravidade foram usados para distinção de / ʃapa/-/sapa/. O uso do ruído fricativo foi diferente em razão da transição de formantes, o que é compatível com a descrição acústica em que a transição foi praticamente nula para [s]. Os participantes não utilizaram a pista de burst para a classificação de /bata/-/data/, apenas a transição de formantes. Os resultados confirmam que diferenças linguísticas afetam a percepção da distinção de ponto de articulação e mostram quais características da fala são utilizadas por falantes do PB. Palavras-chave: percepção da fala; análise da fala; características acústicas; segmentos fonéticos; fonética; linguística. Abstract: This article deals with the auditory cues used for the distinction of the place of articulation in Brazilian Portuguese (PB). In the first part, we describe the acoustic properties of the fricatives [ʃ] and [s] and the stops [b] and [d] followed by the vowel [a] of Brazilian Portuguese (BP). We analyzed speech samples of seven native BP speakers recorded in Belo Horizonte. Similar duration values were obtained for [ʃ] and [s], as well as for the release phase of oral occlusion in the stops. The prevoicing phase was longer for [b] than for [d]. More prominent amplitude peaks and energy concentration in higher frequency regions were obtained in [s] when compared to [ʃ]. We registered energy peaks in higher frequency regions for [d] as compared to [b]. Finally, F2 was higher at the beginning of formant transition for [a] following [ʃ] and [d] when compared to [s] and [b]. In the second part, eight native speakers of Belo Horizonte performed a classification task. Both the F2 and F3 transition and the center of gravity aided in the distinction of /ʃapa/-/sapa/. The use of fricative noise was different as a function of formant transition, what is compatible with the acoustic description in which the transition was almost null for [s]. For /bata/-/data/, the participants did not use the burst cue for the classification of [b] and [d], only the formant transition. The results confirm that linguistic differences affect the perception of the place of articulation and show which characteristics are used by BP speakers. Keywords: speech perception; speech analysis; acoustical properties; phonetic segments; phonetics; linguistics.

Keywords