Educação e Pesquisa (Aug 2007)

Os sentidos de natureza na formação e na prática científica The meanings of "nature" in scientific practice and formation

  • Eliane Brígida Morais Falcão,
  • Flavio Silva Faria

DOI
https://doi.org/10.1590/S1517-97022007000200011
Journal volume & issue
Vol. 33, no. 2
pp. 335 – 351

Abstract

Read online

Investigou-se o alcance das idéias, das imagens e dos conceitos associados ao termo natureza: de que modo cientistas - homens e mulheres que não apenas produzem ciência, mas formam outros cientistas - concebem a idéia de natureza? Exercício comparativo foi realizado com um grupo de sujeitos não acadêmico. Enunciados relacionados ao termo natureza foram investigados nos dois grupos: o primeiro era de pesquisadores-professores de um departamento de bioquímica, e o segundo de motoristas e trocadores de uma linha de ônibus. Mediante a metodologia de análise do discurso do sujeito coletivo, identificaram-se os discursos de natureza, de modo a permitir uma comparação entre eles. Foi usado o conceito de representação social. Mostrou-se que, entre os grupos, as diferenças de formação científica manifestaram-se nas exemplificações marcadas por termos técnicos, usadas pelos bioquímicos. No entanto, as categorias que fundamentam as idéias sobre natureza mostraram-se semelhantes. Foi possível notar que os bioquímicos, mesmo lançando mão de natureza como referente do trabalho científico, acabaram por admitir, de modo geral, a sua incapacidade de precisar o significado do termo. Os resultados revelam a existência de uma lacuna na formação científica superior: a carência de uma formação epistemológica. Essa conclusão de cunho educacional é complementada por apontamentos sobre as relações entre formação científica, filosofia da ciência e impacto social da atividade científica.This is an investigation about the scope of the ideas, images and concepts associated to the word "nature": how do scientists - men and women that not just make science but also train other scientists - conceive of nature? A comparative exercise was carried out with a group of non-academic subjects. Statements related to the phrase "nature" were investigated in two groups: the first was a group of teachers-researchers from a Biochemistry Department, and the second was composed of bus drivers and collectors. Using the methodology of "collective subject discourse analysis", the discourses about "nature" were identified, allowing the comparison between them. Use was made of the concept of social representation. It was shown that the differences in scientific formation between the groups were manifested in the technically laden examples given by the biochemists. Nevertheless, the categories giving support to the ideas about "nature" turned out to be similar across the groups. It was possible to notice that the biochemists, despite making use of "nature" as a referent for the scientific work, ended up admitting, by and large, their inability to give a precise meaning to the term. The results reveal the existence of a gap in higher scientific education: the lack of an epistemological formation. This conclusion, of an educational character, is complemented by notes on the relation between scientific formation, philosophy of science and the social impact of scientific activity.

Keywords