Revista de Pesquisa : Cuidado é Fundamental Online (Apr 2012)
A promoção da saúde na percepção do docente de enfermagem: perspectivas para a saúde do trabalhador
Abstract
Introdução A discussão sobre promoção da saúde no contexto deste estudo vem ao encontro do novo paradigma no contexto da saúde do trabalhador1. O novo paradigma que custeia esta discussão são as ações de promoção da saúde diferentemente daquelas que trabalham a medicina do Trabalho e a saúde Ocupacional. Nesta perspectiva, ao longo da sua evolução, o conceito de Promoção da Saúde vem sofrendo modificações, tendo como pano de fundo os períodos históricos ao qual foram desenvolvidos. Historicamente, o trabalhador vem sendo sacrificado, em detrimento das políticas organizacionais que imperam em cada época. Desde a antiguidade, onde o trabalhador era tratado como escravo, a falta do reconhecimento daqueles que trocam/vendem seus esforços físicos e intelectuais para gerar um produto que proporciona lucro e conseqüentemente o crescimento do país é visível e infelizmente aceitável por muitos. Com o passar dos séculos, pouca coisa foi progredindo com relação aos trabalhadores. Pode-se dizer que o grande marco para o início do desenvolvimento de uma sistematização voltada para a saúde do trabalhador aconteceu na Inglaterra, com a Revolução Industrial e com a criação do primeiro serviço médico voltado para o trabalhador, dando origem assim a medicina do trabalho enquanto especialidade médica2. Porém o trabalhador ainda hoje sofre com grande demanda de trabalho e pouco reconhecimento. E com o docente de enfermagem não é diferente. O trabalho do professor não se restringe ao exercício de sua função dentro da sala de aula, exige atualização e preparo constantes para ser realizado de modo satisfatório. Dentro da sala de aula, além de lidar com os imprevistos que geram um desgaste psíquico e emocional, como recurso audiovisual solicitado não estar disponível, ar condicionado que nem sempre funciona, entre outros; o professor também tem de lidar com situações que levam a um desgaste físico, como turmas com número excessivo de alunos; alunos que conversam durante as aulas; dificuldade de colocar em prática dinâmicas que favoreçam o aprendizado devido à estrutura física das salas, além de ter de ouvir as reclamações dos alunos referentes a estas situações que também são expostos. Com esse processo de trabalho fica difícil, às vezes, parar para fazer um lanche ou até mesmo descansar um pouco. Essas situações não favorecem ao professor colocar em prática seu conhecimento sobre promoção da saúde e levam a reflexão sobre a importância não só do conhecimento, mas da ação em si, ou seja, da prática de ações de promoção da sua saúde. Objetivos Discutir a concepção de promoção da saúde na percepção dos professores de enfermagem e analisar esta concepção na perspectiva da saúde do trabalhador. Métodos O estudo foi exploratório, de natureza qualitativa. Os sujeitos foram 33 professores das Escolas de Enfermagem das Universidades Federais do Estado do Rio de Janeiro em pleno exercício da profissão. Os dados foram obtidos através de uma entrevista semi-estruturada, sendo submetidos à análise temática e analisados à luz da concepção de autores que discutem a promoção da saúde e a saúde do trabalhador. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa3 da Escola de Enfermagem Anna Nery/Hospital Escola São Francisco de Assis/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Resultados Os resultados obtidos no estudo e estão estruturados de acordo com as categorias temáticas emergentes das falas dos sujeitos do estudo. São elas: concepções de promoção da saúde e implicações da promoção da saúde para a saúde do trabalhador. Sobre promoção da saúde, os entrevistados demonstraram terem o conhecimento de uma forma geral do conceito de promoção à saúde, quando descrevem que esta tem a ver com o contexto que se vive, ações para a melhoria da qualidade de vida, não só física, mas também a psíquica e a espiritual e a responsabilidade do profissional como ator nesse processo da busca de estratégias para a melhoria desta qualidade de vida. Com relação às implicações para a saúde do trabalhador, embora, a promoção da saúde seja um conceito ampliado, onde as ações estão direcionadas também ao próprio sujeito enquanto responsável pela própria saúde foi constatado nos relatos que essa promoção ainda está voltada para o outro. Apesar de ser de fundamental importância que as ações de promoção à saúde sejam colocadas em prática, destaca-se que a formação inicial dos profissionais de saúde, de um modo geral, não os prepara para atuar no campo da promoção à saúde, devido ao enfoque ainda predominantemente biologicista, curativo, médico-centrado e desarticulado das práticas em saúde e ainda há confusões entre os conceitos de promoção e prevenção à saúde4,5. Predomina o enfoque comportamental de mudanças de estilo de vida, sendo a saúde ainda compreendia como ausência de doença. É percebido, através dos relatos, o quão os modelos anteriores ao proposto em Ottawa estão enraizados6. Neste sentido, é importante uma reflexão a respeito da metodologia adotada dentro da academia, uma vez que a aprendizagem significativa deve estar engajada no desenvolvimento de políticas públicas saudáveis e estimular a criação de ambientes favorecedores da saúde, da mudança de comportamentos que permitam a proteção do meio ambiente, a conservação de recursos naturais e o envolvimento cada vez maior da população em projetos de promoção da saúde. Conclusão A promoção da saúde foi considerada como as atividades que são realizadas com o objetivo de manter uma qualidade de vida, considerando o contexto vivido. Para que se obtenha essa qualidade de vida, os professores relataram a importância da prevenção das doenças e agravos, assim como manter um bem-estar e evitar situações de risco à saúde dos indivíduos. Com vistas às falas sobre a compreensão da promoção da saúde, cabem reflexões sobre suas implicações para o objeto de estudo. Nesta perspectiva do conceito de promoção da saúde, contribuirá para subsidiar a análise das práticas de saúde relatadas pelos sujeitos do estudo.
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