Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
AVALIAÇÃO DA COMBINAÇÃO DE PARÂMETROS DEMOGRÁFICOS, HEMOSTÁTICOS E RISCO CARDIOVASCULAR EM PACIENTES COM DOENÇA TROMBOEMBÓLICA GRAVE
Abstract
Objetivos: Os eventos tromboembólicos arteriais e venosos estão associados a diversos fatores de risco, havendo uma complexa interposição de fatores pró-coagulantes e inflamatórios, o que explica a heterogeneidade clínica dos pacientes. O objetivo deste estudo é a identificação de grupos homogêneos (clusters) de pacientes com trombose que apresentem características semelhantes, do ponto de vista demográfico, clínico e de perfil pró-coagulante e inflamatório. Material e métodos: Coorte observacional retrospectiva de pacientes adultos com doença tromboembólica grave (venosa e/ou arterial), definida pela indicação de anticoagulação definitiva, seguidos no Serviço de Hematologia da USP. Utilizamos teste exato de Fisher e teste de Mann-Whitney para comparação entre grupos de interesse e análises de clustering para identificação de combinação de fatores que discriminam subpopulações mais homogêneas. Resultados: Dos 248 pacientes, 148 (60%) eram do sexo feminino e 50% portadores de SAF, 50% dislipidemicos, 40% hipertensos, 36% obesos, 17% Diabéticos (DM) e 34% portadores de alguma trombofilia hereditária. Na primeira trombose, a mediana de idade foi 33 anos (IQR 24‒45), 85% ocorreu em leito venoso, 50% foram Tromboembolismo Venoso (TEV) e 35% trombose em sítio incomum. 61% dos pacientes apresentaram retrombose com mediana de 2 episódios. A maioria das recidivas foi TEV (44%), sendo que 45% dos pacientes já estavam em anticoagulação. Pacientes com trombose arterial tinham maior prevalência de hipertensão (56% vs. 36% p = 0.009), dislipidemia (63% vs. 47% p = 0.034), doença renal crônica (13% vs. 4.1% p = 0.02) e Síndrome Antifosfolípide (SAF) (69% vs. 44% p = 0.01), enquanto pacientes com eventos venosos tinham maior prevalência de histórico familiar para trombose (60%) e níveis de Proteína C Reativa (PCR) inferiores (venoso 2.6 [1,2‒6] vs. 4 [2,3‒7,5] arterial). Na análise de clustering, a coorte foi dividida em dois grupos. O primeiro constituído predominantemente por mulheres (70%), jovens (mediana 31 anos, IQR 24‒42), sem comorbidades de risco cardiovascular (88%) ou obesidade (80%), com trombofilias hereditárias (60%) e maior prevalência de eventos venosos (95%). O segundo grupo teve distribuição equilibrada entre sexos, mediana de idade de 36 anos (IQR 24‒47), com alguma comorbidade de risco cardiovascular, sendo 53% obesidade, 52% Hipertensão (HAS) e 81% dislipidemia. A prevalência de eventos arteriais foi maior no segundo grupo em relação ao primeiro (22% vs. 5%). Discussão: Distinguimos duas subpopulações que diferem entre si em aspectos demográficos, clínicos e laboratoriais. A primeira, associada a trombofilias e hereditariedade, constituída de pacientes jovens, femininos, com TEV, sem comorbidades e com histórico familiar positivo. A segunda subpopulação, mais heterogênea, foi associada a perfil inflamatório e plurimetabólico, englobando a maioria dos casos de eventos arteriais, e constituída de pacientes mais velhos, distribuição equilibrada entre sexos, maior prevalência de fatores de risco cardiovascular (HAS, DM, dislipidemia) e sinais de maior atividade inflamatória (portadores de SAF e PCR elevado). Conclusão: Os achados reforçam que múltiplos fatores desencadeantes, comorbidades e trombofilias influenciam na heterogeneidade da população com eventos tromboembólicos. Além disso, a identificação de distintos padrões de agrupamento poderá otimizar o tratamento destas populações e identificar novos biomarcadores.