Psicologia USP ()

Saber ou ignorância: Piaget e a questão do conhecimento na escola pública

  • Fernando Becker

Journal volume & issue
Vol. 1, no. 1
pp. 77 – 87

Abstract

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Em vez da escola assumir o seu compromisso de transmissão e de produção do conhecimento, envolve-se com o condicionamento do comportamento e com o controle da conduta do aluno. Os processos de transmissão (que nunca é mera repetição), e de produção do conhecimento -processos radicalmente interdependentes - exigem, como condição prévia, e têm como ponto de chegada, a liberdade. Os conceitos de experiência lógico-matemática ou de abstração reflexiva, encontráveis na Epistemologia Genética piagetiana, deixam claro que a criança quando retirada do seu meio e afastada dos seus interesses, para ser submetida ao processo de repressão generalizada, exercido pela escola, perde a dinâmica própria à sua ação - fator responsável não só da aprendizagem mas também das condições prévias de todo conhecimento. Exercendo a repressão sobre as manifesrações espontâneas (distinguir das espontaneístas) da criança, até os últimos pormenores, (querendo saber o que a criança cochichou para seu colega, mandando mudar a cor que a criança usou para pintar o olho da figura de um desenho seu, fixando hora de ir ao banheiro...) a escola está de fato, produzindo a subserviência - o que redunda na produção da ignorância: o que gera ainda maior subserviência. Este processo de aprendizagem é subsidiado pela teoria do reforço (predominantemente respondente) e fundado numa epistemologia empirista. Somente pela superação da metodologia da repetição (que é subsidiada pela teoria do reforço), e pela construção de uma metodologia da abstração reflexiva, (abstração da própria ação feita pelo aluno, como indivíduo e como classe social), a escola resgatará seu papel de transmissão e de produção do saber - tão persistentemente buscado pelo trabalhador.

Keywords