Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
ADEQUAÇÃO DA TROMBOPROFILAXIA, INCIDÊNCIA E MORTE POR TROMBOEMBOLISMO VENOSO EM PACIENTES AGUDAMENTE ENFERMOS: ANÁLISE DA COORTE PROFMIG COM 2380 PACIENTES
Abstract
Introdução: O Tromboembolismo Venoso (TEV) em pacientes agudamente enfermos é a principal causa de morte evitável no mundo e a Tromboprofilaxia (TP) é indicada para pacientes em risco. No Brasil, não existem estudos prospectivos que tenham avaliado a incidência de TEV nem a adequação da TP nessa população. Metodologia: Estudo de coorte prospectivo (PROFMiG), conduzido em um hospital geral no Brasil. Os pacientes foram admitidos consecutivamente de agosto/2017‒setembro/2018 e acompanhados até 90 dias após a alta, ou até seu falecimento. As informações no período pós-alta hospitalar foram obtidas por entrevistas telefônicas padronizadas. Os pacientes eram adultos (>18 anos), admitidos em unidades clínicas de internação. Foram excluídos pacientes cirúrgicos, psiquiátricos, ginecológico-obstétricos, com TEV ou uso/indicação de anticoagulação prévia à hospitalização, hospitalizados < 48 horas e admitidos diretamente em unidades de cuidado intensivo/coronariana. O risco tromboembólico de cada paciente foi classificado segundo o IMPROVE7. Recomendou-se TP farmacológica (heparina não fracionada, enoxaparina ou fondaparinux) ou mecânica para pacientes de alto risco de TEV (IMPROVE7 ≥3) e baixo risco hemorrágico. As mortes relacionadas ao Tromboembolismo Pulmonar (TEP) foram adjudicadas por dois pesquisadores independentes. A incidência cumulativa foi estimada considerando análise de risco competitivo e calculado como Hazard Ratio (HR; 95% IC). Resultados: Foram incluídos 2380 pacientes. Um total de 86,2% (2052/2380) foram classificados como baixo risco para TEV e 13,8% (328/2380) como alto risco; 60,8% (1448/2380) receberam TP inadequada, dos quais 87% (1259/1448) eram do grupo de baixo risco e 13% (189/1448) de alto risco. A incidência bruta de TEV foi de 1,5% (36/2380), sendo 75% (27/36) dos casos definidos como espontâneos, 13,9% (5/36) potencialmente evitáveis e 11,1% (4/36) não evitáveis. A taxa de mortalidade foi de 13,8% (328/2380), sendo a maioria das mortes (322/328; 98,2%) não relacionadas à TEV. A incidência cumulativa de TEV aumentou gradualmente, alcançando 0,2%, 0,3%, 0,5%, 0,7%, 0,9%, 1,3% e 1,6% no 5º, 10º, 15º, 20º, 30º, 60ºe 110 dias, respectivamente. Após análise para riscos competitivos, a incidência de TEV foi de 2,3%. Câncer em atividade e trombose prévia associaram-se a risco de TEV tanto para causa específica quanto por subdistribuição, respectivamente: HR = 2,7 (95% IC 1.2‒6.0), HR = 4,5 (95% IC 1.1‒18.8) e HR = 2.5 (95% IC 1.1‒5.4), HR = 4,7 (95% IC 1.1‒20.4). Discussão: Este é o primeiro estudo brasileiro de uma coorte prospectiva de pacientes clínicos hospitalizados que objetivou avaliar incidência e morte por TEV e adequação da TP. A maioria dos pacientes foi classificado como de baixo risco e a incidência de TEV em modelo de risco competitivo foi de 2.3%, compatível com dados da literatura. Cerca de 60% dos pacientes receberam TP inadequada, dos quais 87% eram do grupo de baixo risco e 13% de alto risco. O TEV poderia ter sido evitado em 14% dos pacientes. A principal limitação deste estudo é a generabilidade, uma vez que foi conduzido em um único hospital. Conclusão: A incidência de TEV nesse estudo corrobora com dados de outros estudos de outros países. Embora a TP tenha sido orientada de acordo com IMPROVE7, ela foi inadequadamente usada na maioria dos pacientes.